Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
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desenvolve <strong>em</strong> torno da mistura das substâncias que, à época, e, de acordo com a<br />
especialidade de cada artista compunham a massa de espessura e cor que viriam a<br />
participar da marca de seus nomes na história da pintura. A pintura é uma pintura<br />
de studio, e Vermeer o t<strong>em</strong> <strong>em</strong> sua própria casa, conforme aparece retratado, no<br />
mesmo ângulo, <strong>em</strong> muitas de suas pinturas, apresentando apenas alterações<br />
ornamentos decorativos, personagens e indumentária.<br />
Exceto pelo universo que envolve a família da moça (da qual ela se afasta para<br />
tornar-se criada na casa do pintor e, posteriormente, a modelo da pintura <strong>em</strong><br />
questão) e a compra de comida (que introduz, na narrativa, a figura do açougueiro,<br />
o qual virá a ser seu pretendente), tudo acontece no círculo restrito da convivência<br />
familiar. No que diz respeito ao pintor e à sua família, é apenas na medida da<br />
inserção da pintura <strong>em</strong> seu contexto de circulação que t<strong>em</strong>os notícias deles <strong>em</strong><br />
convivência social, isto é, na sociabilidade que <strong>em</strong>oldura a comercialização de sua<br />
obra. As relações sociais de que t<strong>em</strong>os notícia sobre a família do pintor são<br />
aquelas com seu mecenas e com os açougueiros, inclusive na festa dada por<br />
ocasião do nascimento de um de seus filhos e da finalização de um quadro<br />
encomendado pelo mesmo mecenas<br />
Uma leitura literária conduz a uma classificação da narrativa no âmbito dos<br />
romances históricos realistas, ou com certo cunho biográfico, <strong>em</strong> função da<br />
quantidade de informação historiográfica adaptada sobre a vida familiar do pintor,<br />
do grau de fidelidade na localização espaço-t<strong>em</strong>poral da narrativa e do uso dos<br />
recursos estilísticos de efeito de real, exceto por um detalhe.<br />
Esse detalhe, que a historiografia deixou escapar <strong>em</strong> seu esforço de apreensão do<br />
real por vias documentais, e que é b<strong>em</strong> sucedido <strong>em</strong> relação à grande maioria das<br />
personagens dos d<strong>em</strong>ais quadros de Vermeer, é a inscrição de qu<strong>em</strong> serviu de<br />
modelo a esse quadro, na história. Isto é, a história da personag<strong>em</strong> real cuja<br />
imag<strong>em</strong> figura no quadro.