18.06.2013 Views

Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...

Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...

Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

passag<strong>em</strong> seja que <strong>em</strong> todo o momento haja alusões à qualidade artística e visual<br />

do escudo (vv. 490, 516-517, 539, 561-574). 19 Da análise desta passag<strong>em</strong>, a<br />

maneira de como ela influiu na tradição e como t<strong>em</strong> ajudado a configurar o<br />

gênero, surge uma série de reflexões.<br />

Uma obra de arte visual é objeto de ekphrasis, no entanto é, também,<br />

“representação” (grifo meu). Esta dupla mimesis – tripla, no sist<strong>em</strong>a platônico – é<br />

essencial nos textos ecfrásticos, que por isso apresentam para sua inventio <strong>em</strong><br />

cenas figurativas, sejam elas <strong>em</strong> pintura – a maioria – ou <strong>em</strong> outro tipo de objetos,<br />

como urnas ou tápices. Nesse caso, a descrição da acrópole de Alexandria que<br />

Aftonio propõe como ex<strong>em</strong>plo para a descrição <strong>em</strong> Progymnasmata, somente se<br />

podia considerar uma ekphrasis no sentido clássico do termo, mas não no<br />

cont<strong>em</strong>porâneo. Os Eikones de Filostrato, ao contrário, constituiriam ekphrasis<br />

<strong>em</strong> ambos os sentidos.<br />

O autor de um texto baseado na ekphrasis enfrenta o velho quebra-cabeças – que<br />

Lessing tentou solucionar com seu ensaio o Laocoön – de como se expressar<br />

através de um meio discursivo, portanto sucessivo, de uma cena representada por<br />

um meio visual, portanto simultâneo. Quer dizer, o probl<strong>em</strong>a contrário ao que<br />

preocupa alguns pintores: como moldar <strong>em</strong> uma só imag<strong>em</strong> todo o processo<br />

narrativo. Este desafio é por sua vez a razão de ser da ekphrasis. A ekphrasis é<br />

antes de tudo descrição, mas <strong>em</strong> nenhum momento renuncia a adicionar a cena<br />

cont<strong>em</strong>plada aqueles el<strong>em</strong>entos que, inclusive, ainda que não estejam presentes no<br />

quadro, outorgu<strong>em</strong> naturalidade narrativa. Record<strong>em</strong>os que os autores de<br />

Progymnasmata davam como posível objeto da ekphrasis o que Teón chama<br />

pragmata, quer dizer, ações; também Hermógenes falava de “fatos”. Os pintores<br />

de cenas mitológicas ou religiosas, por ex<strong>em</strong>plo, sab<strong>em</strong> que a cont<strong>em</strong>plação de<br />

19 Hollander assinala que a tradição da ekphrasis que ele chama “notional”, e particularmente a<br />

passag<strong>em</strong> de Homero, proporciona os paradigmas e os textos percursores, os modelos retóricos e<br />

as estratégias interpretativas, para o moderno po<strong>em</strong>a ecfrástico plenamente desenvolvido<br />

(Hollander: 1988, 209).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!