18.06.2013 Views

Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...

Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...

Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

É compreensível, então, que os pintores impressionistas se apropriass<strong>em</strong> das<br />

teorias científicas que indagavam sobre a visão, o sentido diretamente vinculado<br />

com a criação e percepção de obras pictóricas. No entanto, parece mais<br />

surpreendente que se tenha dado uma tendência similar <strong>em</strong> muitos escritores.<br />

Victor Hugo, o “pintor en poesía” (Baudelaire: 1999, 117), definia a poesia como<br />

uma questão de ótica: tudo devia estar refletido nela. Baudelaire não foi,<br />

tampouco, indiferente aos experimentos óticos. Em sua críticas ao salão de 1846<br />

incluiu a seguinte metáfora do disco de Newton:<br />

... como el vapor de la estación - inverno o verano -, banã, suaviza o engulle los<br />

contornos; la naturaleza se parece a una peonza que, movida en una acelerada<br />

velocidad, nos parece gris, aunque resuma en sí todos los colores (Ibid<strong>em</strong>, 107).<br />

É possível conceber esta adoção por parte dos escritores de uma terminologia<br />

associada com a percepção visual s<strong>em</strong> o correspondente intercâmbio de funções<br />

com os pintores?<br />

Este interesse relacionado com a indagação sobre a percepção visual foi paralelo à<br />

<strong>em</strong>ancipação das artes <strong>em</strong> relação a tutela oficial e sua crescente oposição ao<br />

mundo burguês, <strong>em</strong>ancipação e oposição que, no caso particular de França,<br />

adquiriram uma grande intensidade durante o Segundo Império. Se deve a<br />

Édouard Manet o início dessa revolução simbólica da arte, que outros pintores<br />

continuaram por meio de uma política de independência, imitada depois pelos<br />

escritores (Bourdieu 1995: 107, 202). Ao longo do século XIX, a revolução<br />

simbólica dos pintores foi destronando a mera narração visual e, <strong>em</strong><br />

conseqüência, rompeu a relação de dependência que os pintores haviam mantido<br />

historicamente com a literatura. Desse modo, a pintura foi adquirindo cada vez<br />

maior relevância no conjunto da produção cultural.<br />

Os deslocamentos se explicam tanto pela afirmação da autonomia dos pintores<br />

como pela redefinição do papel dos escritores no novo mapa cultural da<br />

modernidade. Por um lado, o reconhecimento público dos artistas plásticos se<br />

tornou cada vez mais dependente da crítica de arte. Por outro, a crítica oferecia

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!