Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A simetria com a afirmação de Baudelaire relativa às “new forces” que as artes<br />
transmit<strong>em</strong>-se reciprocamente não é uma mera coincidência. Toda a teoria de<br />
Pater sobre uma prosa imaginativa – isto é, uma crítica sobre arte e literatura que<br />
por seu poder poético se torne artística, uma das “bellas artes” – procedia de<br />
Baudelaire (Baudelaire: 1999, 246), que admirava a poesia de Gautier porque<br />
“sólo se tiene a sí mesma” e concebia o espírito de um verdadeiro crítico como o<br />
espírito de um verdadeiro poeta (Ibid<strong>em</strong>, 267). No entanto, no pensamento de<br />
Pater se reconhece <strong>em</strong> outras fontes não francesas, <strong>em</strong> particular, as idéias de John<br />
Ruskin (1819-1900), maior crítico de arte inglês e um insuperável “expert”<br />
(entendido) <strong>em</strong> transpor imagens visuais para prosa poética. Retomando a citação<br />
de Pater, Ruskin possuía uma percepção privilegiada das diferenças (e analogias)<br />
últimas entre as artes:<br />
Painting is proberly to be opposed to speaking or writing, but not to poetry.<br />
Both painting and speaking are methods of expression. Poetry is the <strong>em</strong>ployment<br />
of either for the noblest purposes. (http://www.victoriaweb.org)<br />
Quando descreve as imagens de um quadro ou uma paisag<strong>em</strong> natural, Ruskin –<br />
que ao longo dos cinco volumes de Modern Painters utiliza de maneira indistinta<br />
os termos pintor e poeta – se esforça por imitar o olhar de um pintor e reproduz<br />
com palavras, estrategicamente dispostas nos planos léxico e fonéticos do texto,<br />
os efeitos próprios de recursos menos literários – ou menos narrativos -, como a<br />
cor, seus compl<strong>em</strong>entos e contrastes:<br />
Purple, and crimson, and scarlet, like curtains of God’s Tabernacle, the rejoicing<br />
trees sank into the valley in showers of light, every separate leaf quivering <strong>with</strong><br />
buoyant and burning life; each, as it turned to reflect or to transmit the sunbeam,<br />
first a torch and then an <strong>em</strong>erald. (Ibid<strong>em</strong>)<br />
Se nas pinturas de J. M. W. Turner a cor se <strong>em</strong>ancipou do desenho e da linha –<br />
quer dizer, da narração -, nos quadros verbais de Ruskin o poder poético da<br />
metáfora e a imag<strong>em</strong> se libertaram da cristalização que o haviam imposto a<br />
alegoria e o <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>a clássicos, como também das constrições da poesia descritiva<br />
que a tradição das artes irmãs havia estimulado durante o século XVIII. Ruskin,<br />
como Gautier e Baudelaire, abriu as margens da representação pictórica a uma