Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Até meados do século XVI, a prática concreta da pintura estava acompanhada<br />
pelas pretensões teóricas de pintores que buscavam organizar e codificar os<br />
conhecimentos existentes, como foi o caso de Leonardo da Vinci e suas<br />
ilustrações de caráter técnico e científico. Durante esta transição, tais pintores-<br />
críticos, entre os quais o mesmo Da Vinci, Lodovico Dolce (1508-1568) ou<br />
Giovanni Pietro Bellori (1613-1696), se questionaram da natureza, dos conteúdos<br />
e dos fins da pintura. O projeto desses “espíritos entusiastas do Renascimento” –<br />
aperfeiçoar uma teoria que outorgava caráter liberal à pintura – seguindo o<br />
modelo instituído pelos homens das letras, quer dizer, a busca de legitimação nas<br />
fontes clássicas. Segundo John Dryden (http://www.gut<strong>em</strong>berg.org), a poesia teria<br />
uma vantag<strong>em</strong> sobre a pintura, pois t<strong>em</strong> os ex<strong>em</strong>plos que ficaram dos poetas<br />
gregos como dos latinos, ao passo que aos pintores, nada teria sido deixado por<br />
Protógenes, Apele, Zeus, salvo os test<strong>em</strong>unhos recebidos de seus trabalhos<br />
incomparáveis. Dado que as artes visuais não possuíam eqüivalentes às poéticas<br />
de Aristóteles e Horácio, os pintores-críticos se apropriaram de algumas teorias<br />
literárias que tinham a vantag<strong>em</strong> adicional de incluir numerosas referências a<br />
analogia inter-artística. Foi então “cuando impusieron a la pintura algo que, en<br />
realidad, era una teoría de la literatura”, que “los críticos, en medio de su<br />
entusiasmo, no se detuvieron a preguntarse si un arte que utiliza un medio<br />
diferente podía someterse razonabl<strong>em</strong>ente a una estética del préstamo” (Lee 1982:<br />
15-6). A “estética del préstamo” prevaleceu até o século XVIII e converteu a ars<br />
poetica clássica <strong>em</strong> ars pictorica. Ao se submeter a imag<strong>em</strong> pictórica nas<br />
categorias discursivas da poesia, a retórica da pintura (ut rethorica pictura) ficou<br />
eclipsada pela retórica (poética) na pintura (ut pictura poesis) (Lichtenstein, 2005,<br />
09-16).<br />
Lee assinala que o tipo de relação entre a literatura e a pintura favorecido pelo<br />
Renascimento excedeu as pretensões originais de Aristóteles ou Horácio. Foi<br />
justamente o Renascimento, o ponto de partida para o estudo das relações entre