Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
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ekphrasis se diferenciaria, inclusive também no seu sentido primitivo, da mera<br />
descrição informativa: não se trata somente de acumular informação, mas sim de<br />
produzir sensações, de fazer com que a alma se comova (Robillard, 53-72).<br />
A existência de ekphrasis de quadros imaginários subtrai o caráter autônomo<br />
destes textos. Em um primeiro nível, se poderia falar de um gênero autônomo,<br />
inaugurado por Eikones de Filostrato, e continuando através dos séculos por<br />
diferentes coleções ou galerias: os Retratos Antiguos (1902) de Antonio Zayas,<br />
por ex<strong>em</strong>plo. E <strong>em</strong> um segundo nível, é possível falar de textos autônomos no<br />
sentido de que sua compreensão não está essencialmente ligada ao conhecimento<br />
prévio do objeto descrito, se é que este existe. Ainda no caso de que se trata de um<br />
quadro real que o leitor não saiba identificar, o texto não perde esta autonomia,<br />
ainda que sua a interpretação diminua. Não ocorr<strong>em</strong> assim outras modalidade<br />
icônicas, como no caso dos <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>as, onde o texto e a imag<strong>em</strong> são<br />
compl<strong>em</strong>entares e não se compreend<strong>em</strong> um s<strong>em</strong> o outro, ou as inscrições <strong>em</strong><br />
pinturas, esculturas, túmulos funerários, etc.<br />
De modo inexorável, a arte é seletiva, assim como falar da descrição de “um<br />
objeto artístico” (grifo meu) não é absolutamente exato. Por que, o que é que se<br />
descreve desse objeto?, Fragmentos, insinuações, impressões? De modo inevitável<br />
o poeta t<strong>em</strong> de escolher. Em ocasiões o sujeito da enunciação usará a descrição do<br />
quadro como mero pretexto para ressaltar um brilho de uma recordação distante.<br />
Outras vezes a ekphrasis se centra <strong>em</strong> um fragmento ou <strong>em</strong> uma figura do<br />
quadro. Enfim, cada texto ecfrástico se rege por regras de seleção própria, que<br />
evident<strong>em</strong>ente seria impossível enumerar aqui. Mais além disso, a definição de<br />
ekphrasis que nos t<strong>em</strong> servido até o momento é também incompleta <strong>em</strong> um<br />
segundo sentido. Até agora, nos t<strong>em</strong>os fixado <strong>em</strong> como uma cena visual dá lugar a<br />
um texto. No entanto, como explica Tamar Yacobi, <strong>em</strong> Pictorical Models and<br />
Narrative Ekphrasis (1995), as relações imag<strong>em</strong>-texto pod<strong>em</strong> provocar, e de fato<br />
provocam, ao menos outras três modalidades de relação: quando um quadro dá