Clique aqui para acessar o livro completo (em PDF) - Unifesp
Clique aqui para acessar o livro completo (em PDF) - Unifesp
Clique aqui para acessar o livro completo (em PDF) - Unifesp
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
152<br />
JORNADAS CIENTÍFICAS DO NISAN 2008/2009<br />
<strong>em</strong> minúsculos biquínis, exibindo a volúpia de seus corpos e uma deliciosa<br />
“gelada” <strong>em</strong> suas mãos. No entanto, os mesmos comerciais costumam<br />
provocar a ira das f<strong>em</strong>inistas, mulheres não tão bronzeadas assim,<br />
n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre tão alegres e cheias de vida. Afinal, na visão delas, tais comerciais<br />
reforçariam a concepção machista de mulher-objeto, a concepção<br />
de que a mulher não passa de um produto a ser consumido, um produto<br />
entre outros, um produto mercantilizado e banalizado.<br />
Não é necessário dizer que as palavras e a forma de se expressar<br />
carregam <strong>em</strong> si uma carga ideológica capaz de atingir mais um determinado<br />
público do que outros. A publicidade de biscoito que leva <strong>em</strong><br />
sua <strong>em</strong>balag<strong>em</strong> o personag<strong>em</strong> favorito de uma criança vai convencê-la<br />
muito mais do que a seus pais. A publicidade vai alavancar o conatus da<br />
criança, vai extasiá-la, fazendo com que sua felicidade dependa da obtenção<br />
ou não do objeto desejado.<br />
Parece ficar claro que o valor de qualquer anúncio é s<strong>em</strong>pre uma<br />
atribuição, que um comercial simplesmente é, não guardando nenhum<br />
valor (positivo ou negativo), intrínseco, e que, se possui valor criativo, é<br />
porque assim alguém os valorou. Mas se a perspectiva idealista da criatividade<br />
constitui evident<strong>em</strong>ente uma ilusão, por que ela constituiria<br />
uma ideologia? Porque no campo publicitário a criatividade é um b<strong>em</strong>,<br />
algo que possui utilidade, que pode ser acumulado e t<strong>em</strong> o poder de se<br />
reproduzir. Um capital, portanto, simbólico, de maneira mais específica,<br />
pois confere a seus detentores a autoridade profissional ao ser reconhecido<br />
como criativo e talentoso por seus colegas. Um profissional da publicidade<br />
adquire entre eles um prestígio que pode lhe trazer uma série<br />
de outros benefícios, inclusive financeiros.<br />
Quando o Festival Internacional de Publicidade de Cannes pr<strong>em</strong>ia determinados<br />
comerciais, estabelece, <strong>em</strong> certa medida, as diretrizes da boa<br />
publicidade. Diretrizes que, s<strong>em</strong> dúvida, possu<strong>em</strong> implicações políticas.<br />
Afinal, têm o poder de alçar comerciais pr<strong>em</strong>iados à condição de criativos<br />
eficientes, trazendo, <strong>em</strong> resultado, prestígio e reconhecimento <strong>para</strong> seus<br />
produtores – prestígio que pode, portanto, converter-se <strong>em</strong> lucro.