Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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originam e se realizam na esfera social escolar,<br />
são tomadas como fundamentalmente ligadas às<br />
estruturas sociais; encontram-se interpenetradas<br />
em complexos sistemas culturais e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
estruturas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />
Kleiman (2001b) afirma, ainda, que, ao contrário do que<br />
pesquisas massivas apontam, o problema com o abandono <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong><br />
alfabetização <strong>de</strong> adultos não está na falta <strong>de</strong> motivação; que, segundo a<br />
autora, ao contrário, é muito alta. Tais motivações existentes, em linhas<br />
gerais, obe<strong>de</strong>cem a duas frentes, a saber: são <strong>de</strong> foro íntimo, individual e<br />
<strong>de</strong> foro externo, social, como já exemplificamos anteriormente. Po<strong>de</strong>,<br />
por outro lado, constituir um fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>smotivação <strong>de</strong>ssas pessoas<br />
adultas o fato <strong>de</strong>, na realida<strong>de</strong> escolar brasileira, a aprendizagem <strong>de</strong><br />
escrita ser equivalente a uma situação <strong>de</strong> conflito diglóssico, mas não<br />
entre língua dominante e subalterna, mas entre modalida<strong>de</strong>s oral e<br />
escrita da língua. Consi<strong>de</strong>rando aspectos sociolinguísticos, “[...] as<br />
diferenças funcionais entre língua falada e a língua escrita são<br />
evi<strong>de</strong>ntes” (KLEIMAN, 2001b, p. 273). Apren<strong>de</strong>r a ler e escrever<br />
consiste, então, em um processo <strong>de</strong> aculturação conflitivo, já que<br />
acarreta perda e substituição <strong>de</strong> práticas discursivas orais que até então<br />
serviam ao aluno (KLEIMAN, 2001b).<br />
A permanência do aluno em cursos <strong>de</strong> alfabetização<br />
institucionalizados, segundo Kleiman (2001b), <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, entre outros<br />
fatores, da construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> institucional do aluno, sem estar a<br />
ela reduzida. Referindo-se aos pressupostos <strong>de</strong> Bourdieu (1993), a<br />
autora <strong>de</strong>fine essa construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> institucional como sendo um<br />
processo <strong>de</strong> investidura, como atribuição <strong>de</strong> papeis, cargos etc. Desse<br />
modo, a escola constitui o sujeito, aos olhos dos outros, com a<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aluno, transformando “[...] a representação do sujeito<br />
assim legitimado ou investido” (KLEIMAN, 2001b, p. 274).<br />
A construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com Hall (1996), se<br />
ancora em dois eixos: um <strong>de</strong> ruptura e outro <strong>de</strong> aproximação. Do mesmo<br />
modo, Enne (2010) propõe que ao marcar similarida<strong>de</strong>s, os sujeitos<br />
indicam também divergências. Assim, “[...] a concepção contrastiva da<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social aparece claramente [...] para além dos mecanismos <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntificação com <strong>de</strong>terminados agentes ou agências, busca-se a negação<br />
e a oposição frente a outros” (ENNE, 2010, p. 73).<br />
Sobre essa questão ainda, Silva (2011, p.106) afirma que a<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é sempre uma relação, ou seja, “[...] o que eu sou só se <strong>de</strong>fine<br />
pelo que eu não sou; a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> minha i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é sempre