Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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indo, vô apren<strong>de</strong>ndo (MG., entrevista realizada em 12 <strong>de</strong><br />
agosto <strong>de</strong> 2011).<br />
Nesses contextos metodológicos, contudo, a apropriação da<br />
modalida<strong>de</strong> escrita da língua promove, senão outros ganhos, uma<br />
melhora significativa na autoestima <strong>de</strong>sses sujeitos, visto que representa<br />
autonomia e in<strong>de</strong>pendência para eles . Ribeiro (2004, p. 15) pontua as<br />
representações favoráveis que mesmo um domínio bem restrito <strong>de</strong><br />
leitura e escrita conferem aos homens e afirma: “[...] para quem só sabe<br />
assinar o nome, esse saber ainda hoje po<strong>de</strong> ser valioso, no mínimo, para<br />
livrá-lo da vergonha <strong>de</strong> ter que marcar seus documentos com uma<br />
impressão digital”. Obviamente que se trata, no que respeita ao exemplo<br />
dado pela autora, <strong>de</strong> um domínio muito limitado da escrita consi<strong>de</strong>rando<br />
que vivemos em uma socieda<strong>de</strong> grafocêntrica, mas mesmo assim tal ato<br />
po<strong>de</strong> ter funções cotidianas bem práticas, do mesmo modo que o uso <strong>de</strong><br />
leitura ou escrita em contextos bem específicos como anúncio <strong>de</strong><br />
emprego, ca<strong>de</strong>rno pessoal <strong>de</strong> anotações (RIBEIRO, 2004). O excerto em<br />
(77) exemplifica essa discussão:<br />
(77) [...] ainda que eu sempre também tentei analisar meus<br />
documentos, antes, na real, eu era uma pessoa frustrada sim,<br />
eu acho que todas as pessoas que não tiveram estudo são<br />
sim, porque pega um documento assim, que nunca viu na<br />
vida e diz ‘meu Deus, o que quer dizer isso?’ Eles vão ter<br />
que perguntar pra pessoa que tá sentada do lado, pro amigo,<br />
pra outra pessoa, e se a pessoa te diz errado, ou qualquer<br />
coisa assim, então estudar mudou muito, me fez mais segura<br />
<strong>de</strong> mim mesma, tá firme, até com menos vergonha, porque<br />
antes <strong>de</strong> estudar, eu tinha vergonha <strong>de</strong> não saber como as<br />
outras pessoas, que a gente se sente meio... ‘E se eu falar<br />
aquilo e não é assim?’ ‘E se a minha pronúncia não tá<br />
certa? Tá errada? O que que faço? A gente tá sempre com<br />
aquele sentimento que vai gerando uma frustração, uma dor,<br />
uma tristeza. Acho que uma tristeza porque cada vez que tu<br />
precisar ler um documento, assinar um documento, tu vai ter<br />
dúvida se vai per<strong>de</strong>r ou não, será que aquilo que botou tá<br />
certo, tá errado. Então isso daí é muito complicado. Às<br />
vezes, tu assina uma coisa e tu não sabe o que diz duas ou<br />
três cláusulas e tu já tá mal, tu não sabe, tu não estudou, a<br />
dor <strong>de</strong> cabeça <strong>de</strong> noite... ‘Será que <strong>de</strong>u tudo certo? Será que<br />
eu não vou per<strong>de</strong>r?’ Daí assim tu fica meses, até que tu vê<br />
que passou tudo e que não vai acontecer. Mas é complicado,