Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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mesma forma em todos os contextos. Para Kleiman (2001 [1995], p. 22),<br />
“[...] a característica <strong>de</strong> ‘autonomia’ refere-se ao fato <strong>de</strong> que a escrita<br />
seria, nesse mo<strong>de</strong>lo, um artefato completo em si mesmo, com<br />
consistência interna”. Isso significa dizer que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos<br />
letramentos locais, a aprendizagem se daria segundo um mesmo mo<strong>de</strong>lo,<br />
caminho, processo.<br />
Street (1984; 2003) afirma que letramento, tomado à luz do<br />
mo<strong>de</strong>lo autônomo, é concebido como uma habilida<strong>de</strong> técnica, ou seja,<br />
“[...] as pessoas precisam apren<strong>de</strong>r uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificar as letras, e<br />
<strong>de</strong>pois po<strong>de</strong>rão fazer o que <strong>de</strong>sejarem com o recém-adquirido<br />
letramento” (STREET, 2003, p. 4). Dessa forma, o mo<strong>de</strong>lo autônomo se<br />
erige a partir da compreensão <strong>de</strong> que, em si mesmo, o letramento trará<br />
efeitos sobre outras práticas sociais e cognitivas e, ainda, ten<strong>de</strong> a<br />
apregoar neutralida<strong>de</strong> e universalida<strong>de</strong> que seriam constitutivas do<br />
processo <strong>de</strong> ‘aquisição’ do letramento (STREET, 2003), no entanto “[...]<br />
the 'autonomous' mo<strong>de</strong>l is […] constructed for a specific political<br />
purpose” 89 (STREET, 1984, p. 19).<br />
A sensibilida<strong>de</strong> às vivências dos alunos, por outro lado, é tema<br />
fulcral na obra freiriana. Para o autor, a leitura da palavra, da frase, da<br />
sentença, não po<strong>de</strong> significar uma ruptura com a “leitura” do mundo. A<br />
leitura da palavra, sim, <strong>de</strong>ve ser a leitura da ‘palavramundo’. No<br />
pensamento <strong>de</strong> Freire (2009 [1982]), o movimento do mundo à palavra e<br />
da palavra ao mundo está sempre presente no processo. Tal dinâmica é,<br />
para o autor, central no processo <strong>de</strong> alfabetização. O autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>,<br />
assim, que, ao empreen<strong>de</strong>r processos educativos, é necessário consi<strong>de</strong>rar<br />
a realida<strong>de</strong> social tanto dos sujeitos como dos contextos em que essas<br />
ações serão <strong>de</strong>senvolvidas. Os estudos do letramento associam ao<br />
i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> Freire “[...] a focalização do local, para além das condições<br />
sociais e econômicas, o modo como a cultura escrita circula, é<br />
apropriada e constitui as relações sociais nesses contextos” (VÓVIO,<br />
2010, p. 108).<br />
Tendo em vista essa compreensão, registramos a seguir uma<br />
nota <strong>de</strong> campo com relação à importância <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar as vivências dos<br />
alunos nos processos <strong>de</strong> escolarização.<br />
(1) Quando a nova professora chega à sala <strong>de</strong> aula, faz breve<br />
autoapresentação e, em seguida, pe<strong>de</strong> aos alunos que<br />
também o façam explicando por que estão na EJA. Na fala<br />
<strong>de</strong> M. se sobressai a seguinte afirmação: “[...] já estive na<br />
89 O mo<strong>de</strong>lo ‘autônomo’ é [...] construído para um propósito político específico.