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Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC

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<strong>de</strong> acesso ao conhecimento e à informação, como se isso se <strong>de</strong>sse apenas<br />

pelo mundo dos livros e outros materiais escritos, negligenciando os<br />

conhecimentos que os alfabetizandos possuem in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do<br />

domínio da escrita. Não negamos, evi<strong>de</strong>ntemente, o papel da escrita na<br />

apropriação do conhecimento; o foco, nesta discussão, é a associação<br />

isomórfica que ten<strong>de</strong>mos a estabelecer entre domínios da escrita e posse<br />

do conhecimento, associação que, muitas vezes, apaga as implicações<br />

socioeconômicas e político-culturais que tanto a apropriação quanto a<br />

posse do conhecimento trazem consigo.<br />

Paralelamente a essas concepções, bastante latentes no i<strong>de</strong>ário<br />

do senso comum, e a partir <strong>de</strong>las, são atribuídas ao analfabetismo<br />

valorações negativas e, por via <strong>de</strong> consequência, estigmatizantes. A<br />

atribuição <strong>de</strong> características inerentemente emancipadoras à<br />

alfabetização e, <strong>de</strong> igual modo, inerentemente negativas ao<br />

analfabetismo sustenta a manutenção do binômio alfabetização/mudança<br />

(VÓVIO, 2010). Aspectos como corrupção, violência, <strong>de</strong>semprego,<br />

tráfico <strong>de</strong> drogas e sub<strong>de</strong>senvolvimento ten<strong>de</strong>m a ser, também,<br />

explicados pelo viés do analfabetismo, daí, sob vários aspectos, a<br />

concepção <strong>de</strong> chaga. Assim, o analfabetismo, em boa medida uma<br />

<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> complexas implicações <strong>de</strong> natureza socioeconômica e<br />

política, termina por virar causa <strong>de</strong> mazelas sociais.<br />

Nessa discussão, vale registrar que, durante muitas décadas foi<br />

propagada a i<strong>de</strong>ia, já mencionada na seção imediatamente anterior, <strong>de</strong><br />

que, quanto maiores os níveis <strong>de</strong> alfabetismo, maiores as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento social e econômico. O contrário também foi objeto<br />

<strong>de</strong> propagação, ou seja, os níveis <strong>de</strong> analfabetismo estavam diretamente<br />

associados ao sub<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> países. A Unesco, <strong>de</strong> certa forma,<br />

contribuiu para a disseminação <strong>de</strong>sse i<strong>de</strong>ário ao propor campanhas <strong>de</strong><br />

alfabetização em massa sob a pecha <strong>de</strong> que o analfabetismo estaria<br />

ligado ao atraso e à pobreza e sugerindo que o alfabetismo seria uma<br />

condição inerentemente/imanentemente favorável a todos, além <strong>de</strong><br />

propiciar progresso do ponto <strong>de</strong> vista social e individual. Essa<br />

concepção também acabou por ser difundida na esfera acadêmica por<br />

meio <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m (GALVÃO; DI PIERRO, 2007); no<br />

entanto, para Britto (2004, p. 56), “[...] a análise comparativa do nível <strong>de</strong><br />

alfabetismo com a classe socioeconômica, o grau <strong>de</strong> instrução e o tipo<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> profissional <strong>de</strong>monstra que são essas circunstâncias que<br />

contribuem para o letramento, e não o contrário”.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que a chaga a ser extirpada não é o analfabetismo<br />

em si mesmo, mas a precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições socioeconômicas e <strong>de</strong><br />

privação do exercício político a que se veem submetidas populações

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