Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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fruto <strong>de</strong> questões mais amplas, ligadas à macroinserção social ou, mais<br />
<strong>de</strong>licadamente, a <strong>de</strong>sdobramentos da ontologia humana. Depreen<strong>de</strong>r<br />
essas motivações seguramente não é uma tarefa simples, mas nos<br />
arriscamos a ela por enten<strong>de</strong>rmos que <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>preensão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, em<br />
boa medida, as discussões que empreen<strong>de</strong>remos no próximo capítulo,<br />
que finaliza o percurso analítico.<br />
As consi<strong>de</strong>rações das participantes <strong>de</strong> pesquisa acerca das<br />
motivações que as levam a um programa <strong>de</strong> alfabetização remontaram à<br />
experiência primeira com a escolarização, ainda na infância. Isso, em<br />
nosso entendimento, precisa ser analisado na medida em que uma<br />
representação favorável <strong>de</strong>sse processo parece resultar em anseio por<br />
retorno à escola ou não. Na sequência, arriscamos postar longos excertos<br />
que dão conta <strong>de</strong>sse recorte <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong> que converge com nosso<br />
interesse analítico aqui; feito o registro, empreen<strong>de</strong>remos a análise.<br />
(43) O começo na escola [na infância] foi muito importante. Eu,<br />
na realida<strong>de</strong>, parei <strong>de</strong> estudar porque sabe quando a gente<br />
é adolescente, a gente quer ter o dinheirinho da gente e,<br />
como antigamente não é como agora, os pais não <strong>de</strong>ixavam<br />
a gente estudar <strong>de</strong> noite, então eles disseram pra escolher<br />
‘ou tu vai trabalhar ou se não estudá <strong>de</strong> dia’. Mas como a<br />
gente queria ter o dinheirinho, começar a adquirir alguma<br />
coisa, né... daí eu parei <strong>de</strong> estudar, comecei a trabalhar, daí<br />
<strong>de</strong>pois eu casei, daí mesmo eu nunca mais voltei (M.,<br />
entrevista realizada em 07 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011, ênfase nossa).<br />
(44) Aprendi [quando estive na escola na infância]. Muita coisa,<br />
eu já sabia, né... Mas, o que eu mais esqueci foi a<br />
matemática, que eu nunca mais... Conta <strong>de</strong> dividir, eu não<br />
sei, essa eu não sei. Eu aprendi... mas também é tudo<br />
diferente agora, então... Mas ler e escrever assim, tudo eu<br />
aprendi e não esqueci mais. Até os doze anos, né, só até os<br />
doze anos... <strong>de</strong>pois não estu<strong>de</strong>i mais, daí nunca mais. Eu<br />
gostava, sempre gostei <strong>de</strong> ir na escola, sempre, sempre... Eu<br />
parei assim ó... porque, com doze anos, a gente morava<br />
assim numa cida<strong>de</strong>zinha no interior, né... então só tinha essa<br />
escola, o nome da escola lá no meu ano era Adriana Seabra<br />
da Fonseca, não esqueci. Daí pra fazer o ginásio na época,<br />
era em outra cida<strong>de</strong>, tudo longe. Então, daí naquelas outras<br />
cida<strong>de</strong>s, a minha mãe sempre dizia ‘ah porque os meninos<br />
não vão estudar mais por isso, por aquilo’. O sonho do meu<br />
pai era que pelo menos uma filha <strong>de</strong>le fosse professora,<br />
mas não <strong>de</strong>u certo porque daí a gente morava em