Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
224<br />
não burra, aquela pessoa que quer saber tudo e não sabe<br />
nada (MG., entrevista realizada em 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011).<br />
No <strong>de</strong>correr da interação, contudo, MG. explicita vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
dar segmento aos estudos. Esse interesse por parte da participante <strong>de</strong><br />
pesquisa parece se relacionar mais com o apreço ao conhecimento que<br />
vem <strong>de</strong>senvolvendo e pelo entendimento da escolarização como um<br />
valor em si mesmo (GRAFF, 1994), do que por questões <strong>de</strong> ascensão<br />
profissional ou social.<br />
(59) Hoje, eu vejo que eu aprendi tantas coisas, as informações<br />
são bastantes, e há tantas coisas que é um mundo. Meu<br />
Deus, um livro, tem tantos que a gente nunca vai conseguir<br />
ler, é tanta informação, tanta sabedoria, que eu acho que eu<br />
vou continuar até o dia que eu... Vou tentar uma faculda<strong>de</strong><br />
com certeza, vou tentar um mestrado, um doutorado com<br />
certeza, vou fazer um pós e até aí eu vou continuar, porque<br />
assim ó a única coisa que mantém o ser humano bem e feliz é<br />
estar bem informado, é saber exatamente o que está dizendo<br />
e o que quer e eu quero continuar assim (MG., entrevista<br />
realizada em 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011).<br />
São flagrantes na fala <strong>de</strong> MG., também, <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
social mais ampla, já que a participante <strong>de</strong> pesquisa menciona que<br />
importa a ela interagir com mais proprieda<strong>de</strong> com as pessoas, tal como<br />
em (58): [...] pra saber o que tô dizendo, o que tô falando, com<br />
sabedoria, não burra, aquela pessoa que quer saber tudo e não sabe<br />
nada. As relações sociais, <strong>de</strong>sse modo, têm lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nas<br />
<strong>de</strong>mandas evi<strong>de</strong>nciadas pela alfabetizanda. Nesse ponto, ainda, ela<br />
reafirma uma auto-representação negativa <strong>de</strong>rivada, em alguma medida,<br />
da sua condição <strong>de</strong> domínio rudimentar da escrita (BARBOSA, 2007).<br />
Consi<strong>de</strong>rando, por fim, as <strong>de</strong>mandas que emergiram das falas<br />
das participantes <strong>de</strong> pesquisa, é possível estabelecer um ponto <strong>de</strong><br />
contato com o proposto por Stromquist (2005). A autora afirma que o<br />
reingresso à escolarização é uma tentativa, por parte dos alfabetizandos,<br />
<strong>de</strong> preencher necessida<strong>de</strong>s concernentes aos seus papéis sociais e<br />
i<strong>de</strong>ntitários, já que as inúmeras referências enraizadas no senso comum<br />
sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong>sses indivíduos acabam por<br />
marginalizar essa população, além <strong>de</strong> negar as muitas habilida<strong>de</strong>s e<br />
estratégias comunicativas que eles têm/<strong>de</strong>senvolveram.<br />
Assim, a inserção em programas <strong>de</strong> alfabetização<br />
institucionalizados po<strong>de</strong> contribuir para a (re)construção i<strong>de</strong>ntitária,