Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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esse i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> alfabetização, a qual dicotomiza indivíduos<br />
alfabetizados e analfabetos no que diz respeito a capacida<strong>de</strong>s cognitivas.<br />
Esse i<strong>de</strong>ário não raro traz implicitada a concepção <strong>de</strong> que, além <strong>de</strong><br />
competências cognitivas inferiores, o indivíduo analfabeto teria<br />
dificulda<strong>de</strong>s cognitivas no encaminhamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas que lhe são<br />
cotidianamente apresentadas. Para Stromquist (2005, p. 305), restrições<br />
<strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m não são confirmadas no discurso <strong>de</strong>sses sujeitos que, ao<br />
contrário <strong>de</strong>ssa caracterização, não relatam dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa natureza<br />
relacionadas ao analfabetismo. Possivelmente tais discursos sejam “[...]<br />
reflexo [...] do fato <strong>de</strong> que muitos indivíduos têm empregos que não<br />
requerem o uso <strong>de</strong> alfabetização ou [reflexo <strong>de</strong>] que eles apren<strong>de</strong>ram a<br />
lidar com suas habilida<strong>de</strong>s [...]” (STROMQUIST, 2005, p. 305). Essa é<br />
uma discussão complexa cujo eixo foi criticado por Street (1984) ao<br />
polemizar estudos antropológicos e psicológicos que terminam por<br />
estabelecer uma relação isomórfica entre domínios da escrita e<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstração do real.<br />
A segunda concepção – alfabetização como prática social<br />
imersa em condições locais – tem a seu favor posicionamentos “[...]<br />
acadêmicos, principalmente nas áreas <strong>de</strong> linguística e antropologia. Esse<br />
grupo consi<strong>de</strong>ra que o letramento é, mais que um conjunto <strong>de</strong><br />
habilida<strong>de</strong>s abstratas, uma prática social e assim argumenta não haver<br />
um único letramento, mas múltiplos letramentos” (STROMQUIST,<br />
2005, p. 303) – a que já fizemos menção em capítulo anterior. Segundo<br />
essa perspectiva, os indivíduos acabam por <strong>de</strong>senvolver várias<br />
estratégias para viver em socieda<strong>de</strong> e driblar não domínios <strong>de</strong> leitura e<br />
escrita.<br />
Ainda que haja remissões ao fenômeno do letramento, para a<br />
autora, geralmente os programas <strong>de</strong> alfabetização nessa vertente estão<br />
muito preocupados com os resultados do <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo<br />
<strong>de</strong>sses sujeitos e não são suficientemente sensíveis ao modo como o<br />
processo <strong>de</strong> alfabetização ocorre para eles e como eles inci<strong>de</strong>m, a partir<br />
dos novos conhecimentos e mo<strong>de</strong>los, sobre a cultura que os cerca.<br />
Assim, inferimos que tais remissões ao fenômeno do letramento não<br />
trazem consigo a ancoragem sócio-histórica e político-econômica que<br />
caracteriza as discussões sobre esse tema contemporaneamente.<br />
Para essa segunda concepção, segundo Stromquist (2005),<br />
alfabetizar adultos <strong>de</strong>ntro do paradigma escolar convencional, que<br />
concebe alfabetização como um construto a ser adquirido e não toma<br />
esse fenômeno em uma perspectiva processual, resulta geralmente em<br />
fracasso. Conforme esse i<strong>de</strong>ário, o processo <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong>ve estar<br />
ligado à continuida<strong>de</strong> da educação para que obtenha êxito, além <strong>de</strong> ter<br />
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