Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
261<br />
mexer... Não me sinto segura, é que às vezes até que eu vou<br />
ler o que é pra fazer já saiu do ar, fechou... Na lotérica, é<br />
tranquilo. Se eu precisar ir no banco, vou no banco. Já sacar<br />
dinheiro no caixa eletrônico, sozinha não, eu sempre peço<br />
ajuda, mas eu sempre me cuido muito quando for pra digitar<br />
a senha... Eu <strong>de</strong>ixo pra elas me ensinarem as coisas do<br />
básico, mas na senha essas coisas eu faço tudo sozinha...<br />
(M., entrevista realizada em 07 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011).<br />
(38) Eu tenho muita dificulda<strong>de</strong> assim no texto, eu tenho muita<br />
dificulda<strong>de</strong>. Fazer um resumo, um texto pra mim eu tenho<br />
dificulda<strong>de</strong>. [...] Na vida, eu tenho dificulda<strong>de</strong>, por exemplo,<br />
se eu tivesse que fazer uma carta sobre um problema na<br />
gela<strong>de</strong>ira, mas eu tenho um pouco <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, eu até<br />
po<strong>de</strong>ria fazer, mas eu tenho dificulda<strong>de</strong> (E., entrevista<br />
realizada em 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011).<br />
(39) Fazer HPE’s tá ainda meio dificultoso, porque, por exemplo,<br />
tem que ler fazer um resumo né, assim aquele resumo,<br />
porque eu leio e já me esqueço. Como começar uma frase, eu<br />
também acho dificultoso. Na leitura e na escrita, [a escola]<br />
ajudou bastante, porque eu não tinha assim aquela agilida<strong>de</strong><br />
para escrever. Eu sei que a minha letra não é bonita, mas<br />
assim, às vezes, eu pensava ‘eu tenho que começar a praticar<br />
com alguma coisa assim’, porque às vezes até pra escrever o<br />
nome, pra assinar um documento, às vezes eu assinava assim<br />
tudo torto, mas eu assino assim bem melhor, eu aprendi na<br />
escola (E., entrevista realizada em 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011).<br />
Esse conjunto <strong>de</strong> passagens imediatamente anterior trata <strong>de</strong><br />
limitações que as próprias participantes informam ter, ainda, quanto ao<br />
uso da escrita. Algumas <strong>de</strong>ssas limitações têm um componente<br />
adicional, o imbricamento entre escrita e tecnologia, como no caso <strong>de</strong><br />
(17) e (35), nos quais M. alu<strong>de</strong> a dificulda<strong>de</strong>s importantes no uso <strong>de</strong><br />
computador e caixa eletrônico. Do mesmo modo que tais tecnologias<br />
têm potencializado as <strong>de</strong>mandas por leitura e escrita, é certo que o<br />
avanço tecnológico permite usos diferentes da escrita, a exemplo <strong>de</strong> email<br />
ou “torpedo” em lugar <strong>de</strong> telefonema, e <strong>de</strong> chats em lugar <strong>de</strong><br />
reuniões presenciais, entre outros. Tais possibilida<strong>de</strong>s, porém, só se<br />
configuram efetivamente como opções se o sujeito for alfabetizado <strong>de</strong><br />
fato e tiver acesso efetivo a essas tecnologias e, com isso, pu<strong>de</strong>r optar<br />
pela modalida<strong>de</strong> que melhor lhe convier (KLEIMAN, 2001a), o que, ao<br />
que parece, não é o caso <strong>de</strong>ssas senhoras.