Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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Além <strong>de</strong>sse indício que é <strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong> um movimento por<br />
parte <strong>de</strong> M. no sentido <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação com entornos<br />
socioeconomicamente privilegiados, a fala registrada em nota <strong>de</strong> campo<br />
(20) converge com tal questão:<br />
(20) [Sobre ativida<strong>de</strong>s nas horas livres, além da leitura literária,<br />
informa] eu tenho as amigas da minha filha lá do trabalho<br />
que elas me adoram (risos), eu sou a mãezona, né... Daí elas<br />
vêm aqui, a gente faz almoço, sempre faz uma coisa, vai na<br />
casa <strong>de</strong> uma, da outra, quando tem um evento elas já dizem<br />
pra minha filha [me levar junto], ela diz já sei vou levar<br />
minha mala junto, que sou eu né... (risos)<br />
Há, assim, subjacente à fala <strong>de</strong> M., questões i<strong>de</strong>ntitárias na<br />
medida em que existe um interesse por parte da participante em dominar<br />
instrumentos, construir práticas que, no entendimento <strong>de</strong>la, são típicos<br />
<strong>de</strong> um meio social do qual ela busca se aproximar, os quais possam<br />
facultar sua permanência ou inserção efetiva como membro <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminado(s) grupo(s) – aqui, no caso, o grupo <strong>de</strong> amigas a que<br />
pertence a filha. Enten<strong>de</strong>ndo o processo <strong>de</strong> construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
acordo com Hall (1996), como ancorado em dois eixos, um <strong>de</strong> ruptura e<br />
outro <strong>de</strong> aproximação; são nítidas na fala <strong>de</strong> M. as relações <strong>de</strong> ruptura e<br />
aproximação que ela busca estabelecer. Ainda sobre questões<br />
i<strong>de</strong>ntitárias, Silva (2011, p.106) afirma que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é sempre uma<br />
relação, ou seja, “[...] o que eu sou só se <strong>de</strong>fine pelo que eu não sou; a<br />
<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> minha i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do<br />
Outro”. Há, também, para esse autor, uma dimensão <strong>de</strong> significação<br />
implicada nas formações i<strong>de</strong>ntitárias na medida em que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não<br />
é um construto natural, ela é <strong>de</strong>finida num processo <strong>de</strong> significação,<br />
visto ser necessário que, no bojo das relações sociais, lhe seja atribuído<br />
um significado. Nesta seção, <strong>de</strong>screvemos os usos escolares da escrita,<br />
empreendidos pelas senhoras participantes <strong>de</strong> pesquisa, os quais<br />
parecem se caracterizar por uma dimensão ainda bastante artificializada,<br />
restrita ao ambiente escolar, não raro com componentes <strong>de</strong> infantilização<br />
ou com aproximações <strong>de</strong>masiadamente amplas no que respeita ao senso<br />
comum, rarefazendo a escrita. Vemos, por outro lado, um movimento<br />
em busca <strong>de</strong> novas configurações, aproximações com o i<strong>de</strong>ário teórico<br />
dos gêneros discursivos (BAKHTIN, 2003 [1952/53]) e um trabalho<br />
ainda inicial com as novas tecnologias. Trata-se, em nosso<br />
entendimento, <strong>de</strong> propostas didático-pedagógicas em um movimento <strong>de</strong>