Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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consi<strong>de</strong>ra relevante o trabalho com linguagem (no contexto em questão<br />
entendida como leitura, interpretação e escrita); os alunos, em<br />
contrapartida, expressam interesse em saberes tipicamente escolares; e a<br />
professora, por sua vez, enten<strong>de</strong> ser necessário, em alguma medida,<br />
aten<strong>de</strong>r também aos anseios dos alunos, mesmo que isso signifique ter<br />
<strong>de</strong> burlar as recomendações da coor<strong>de</strong>nação.<br />
Essa dissonância corrobora nossas inferências, realizadas a<br />
partir <strong>de</strong> vivências em classes <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />
adultos, que dão conta <strong>de</strong> um aparente paradoxo entre o que é proposto<br />
pelos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> jovens e adultos, que, em tese, teriam a<br />
função <strong>de</strong> co-construir um alargamento dos usos sociais da escrita em se<br />
tratando <strong>de</strong>ssas populações, e as necessida<strong>de</strong>s que levam esses adultos<br />
às salas <strong>de</strong> aula muitos anos <strong>de</strong>pois do momento e do tempo tidos como<br />
a<strong>de</strong>quados do ponto <strong>de</strong> vista da ida<strong>de</strong> escolar (FREIRE; MACEDO,<br />
2006 [1990]) 103 .<br />
(63) Eu sempre trabalhei com criança, cui<strong>de</strong>i <strong>de</strong> criança, na<br />
igreja trabalhei com criança, tudo isso já vem <strong>de</strong> muito<br />
tempo, sabe, eu tinha aquele <strong>de</strong>sejo, assim,’o que eu podia<br />
fazer, assim, pra trabalhar; assim, esse dom pra trabalhar<br />
com criança, o que eu podia fazer pra trabalhar mais, assim,<br />
com criança?’ Só que eu não entendia bem assim. Daí a<br />
minha filha falou ‘a mãe podia fazer alguma coisa, assim,<br />
pra mãe estudar e fazer pedagogia’. Depois que eu comecei<br />
a estudar, eu comecei a pensar, assim, ‘como é que eu podia<br />
fazer pra me formar e trabalhar com criança?’ E brotou<br />
mais quando eu comecei a estudar porque agora eu sei que<br />
eu vou ter um jeito, assim, que eu possa me formar em<br />
alguma coisa. A única coisa que eu não entendia bem é como<br />
a EJA, eu queria apren<strong>de</strong>r mesmo, que eu achava que eu ia<br />
apren<strong>de</strong>r logo era a matemática, o português, que eu ia já<br />
entrar naquilo que eu parei, mas, quando eu cheguei aqui foi<br />
tudo diferente, foi logo com pesquisa; os outros tipos <strong>de</strong><br />
matérias né então eu achava que fosse... Mas agora eu tô<br />
acostumada, tá bem legal, tá bem bom, tô apren<strong>de</strong>ndo, já<br />
aprendi bastante assim coisas que eu não sabia. (E.,<br />
entrevista realizada em 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011).<br />
O fragmento (63) converge com a valoração dos saberes<br />
tipicamente escolares evi<strong>de</strong>nciados na fala <strong>de</strong> M., em (61), e<br />
corroborado na nota <strong>de</strong> campo (62). Aponta, entretanto, para um<br />
103 Tal aspecto será abordado com mais rigor no nono capítulo <strong>de</strong>sta dissertação.