Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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socieda<strong>de</strong>”. Os estudos sobre o letramento, para aquela autora,<br />
transcen<strong>de</strong>m, no entanto, o universo das pessoas que dominam a escrita.<br />
Eles buscam investigar, também, as consequências da ausência da<br />
escrita no nível individual, mas sempre remetendo ao universo social<br />
mais amplo.<br />
Para Soares (2003 [1998], p.72), que se ocupa do tema sob uma<br />
ótica que enten<strong>de</strong>mos mais escolarizante, “[...] letramento não é pura e<br />
simplesmente um conjunto <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s individuais; é o conjunto <strong>de</strong><br />
práticas sociais ligadas à leitura e à escrita em que os indivíduos se<br />
envolvem em seu contexto social”. Em alguns momentos <strong>de</strong> sua obra,<br />
no entanto, parece-nos notório que as concepções adotadas pela autora<br />
enfocam, em especial, o letramento escolar, quando afirma, por<br />
exemplo, que “[...] o termo alfabetismo (outros preferem ‘letramento’)<br />
[é usado] para <strong>de</strong>signar o estado ou condição <strong>de</strong> domínio e uso plenos da<br />
escrita, numa socieda<strong>de</strong> letrada” (SOARES, 2004 [2003], p. 54).<br />
De acordo com Rojo (2009a), assim como para Soares (2004<br />
[2003]), alfabetismo é um termo que disputa espaço com o conceito <strong>de</strong><br />
letramento. Rojo (2009a) toma como <strong>de</strong>finição para o termo uma<br />
proposição <strong>de</strong> Soares (2003 [1995], p. 29): “[...] alfabetismo po<strong>de</strong> ser<br />
<strong>de</strong>finido como o estado ou condição <strong>de</strong> quem sabe ler e escrever [...]” e<br />
afirma que o ato <strong>de</strong> ler (e escrever) não implica apenas conhecer o<br />
alfabeto e <strong>de</strong>codificar, é preciso também acionar o conhecimento <strong>de</strong><br />
mundo, conhecimento <strong>de</strong> outros textos, prever, inferir etc.<br />
Já Kleiman (2001 [1995]), em nossa compreensão –<br />
diferentemente <strong>de</strong> Tfouni e <strong>de</strong> Soares – ancora suas teorizações <strong>de</strong> modo<br />
mais efetivo nos estudos culturais, enten<strong>de</strong>ndo letramento como as<br />
práticas e os eventos relacionados com o uso, a função e o impacto<br />
social da escrita e discutindo questões políticas e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
implicadas nesse uso. Para Baltar (2010, p. 216), “[...] a concepção <strong>de</strong><br />
Kleiman está associada <strong>de</strong> modo mais amplo ao conjunto <strong>de</strong> práticas<br />
sociais possíveis <strong>de</strong> serem vivenciadas na socieda<strong>de</strong>, tratando-se <strong>de</strong> um<br />
processo experiencial contínuo que acompanha o indivíduo durante toda<br />
sua vida”.<br />
Essas diferenças em se tratando do posicionamento dos<br />
principais teóricos da área no Brasil, nos levam a consi<strong>de</strong>rar que é<br />
possível escrutinar pelo menos duas concepções <strong>de</strong> letramento que se<br />
eliciam nesses estudos. A primeira concepção assume uma perspectiva<br />
que associa o conceito ao “[...] estado ou condição que adquire um<br />
grupo social ou um indivíduo como consequência <strong>de</strong> ter-se apropriado<br />
da escrita” (SOARES, 2003 [1995], p. 39). A outra concepção<br />
correspon<strong>de</strong> ao i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> Angela Kleiman, a que nos filiamos, e, tal