Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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se presta uma dimensão socialmente re<strong>de</strong>ntora, o que termina por<br />
<strong>de</strong>legar ao indivíduo – secundarizando especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua inserção<br />
sociocultural e econômica – a culpa pelo fracasso ou os louvores<br />
<strong>de</strong>correntes do sucesso na conquista <strong>de</strong> um lugar social em seu tempo<br />
histórico, enten<strong>de</strong>ndo, aqui, fracasso e sucesso à luz <strong>de</strong> expectativas<br />
sociais historicamente construídas do que seja ter qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />
contemporaneamente.<br />
Sob esse enfoque, o acesso à alfabetização não é visto por parte<br />
<strong>de</strong> muitos analfabetos como um direito adquirido ou <strong>de</strong> perspectiva<br />
coletiva; é, na maioria das vezes, visto pelo viés individual (GALVÃO;<br />
DI PIERRO, 2007, p. 15). Dessa forma, o analfabetismo não é<br />
concebido como um processo <strong>de</strong> exclusão social ou <strong>de</strong> violação dos<br />
direitos coletivos, mas pelo jugo também individual <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio ou<br />
fracasso, que por sua vez promove repetidos episódios <strong>de</strong> discriminação<br />
e humilhação causadores <strong>de</strong> muito sofrimento e <strong>de</strong> culpa e vergonha aos<br />
analfabetos.<br />
4.2.3 Analfabetismo como chaga a ser extirpada/erradicada<br />
A atribuição, ao indivíduo – <strong>de</strong>scurando <strong>de</strong> sua inserção<br />
socioeconômica e <strong>de</strong> sua condição política –, da responsabilida<strong>de</strong> por<br />
seu fracasso ou por seu sucesso, discussão com que concluímos o<br />
tópico imediatamente anterior, tem profundas relações com a<br />
compreensão do analfabetismo como chaga a ser extirpada, foco <strong>de</strong>sta<br />
seção.<br />
Hoje, po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rada analfabeta ou analfabeta<br />
funcional “[...] a pessoa [que] não [...] [tenha] se apropriado das<br />
habilida<strong>de</strong>s necessárias para participar efetivamente das práticas sociais<br />
que envolvem a leitura e a escrita – para ‘viver em uma socieda<strong>de</strong><br />
grafocêntrica’” (SOARES, 2005, p. 90). Paralelamente a essa<br />
compreensão, convivem no i<strong>de</strong>ário coletivo muitas visões<br />
estigmatizadas acerca <strong>de</strong>ssa parcela da população, isso porque, em<br />
alguma medida, os próprios programas governamentais incumbem-se <strong>de</strong><br />
perpetuar i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> que o progresso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da erradicação <strong>de</strong>ssa chaga<br />
e, por via <strong>de</strong> consequência, o atraso social também seria <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong><br />
falta <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s/competências pessoais <strong>de</strong>sses indivíduos para se<br />
alfabetizarem.<br />
Barton (1994) alerta para as metáforas claras veiculadas nos<br />
meios <strong>de</strong> comunicação massiva que justapõe alfabetização a outros<br />
termos negativos, como fraqueza, criminalida<strong>de</strong> e doença. Uma outra<br />
abordagem, pontuada pelo autor, é a visão da alfabetização em termos<br />
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