Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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outros entornos, a exemplo das famílias escolarizadas que instigam as<br />
crianças a esse aprendizado na ambientação doméstica e a exemplo <strong>de</strong><br />
adultos que, premidos por <strong>de</strong>mandas sociais <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m, buscam<br />
formas alternativas <strong>de</strong> se alfabetizarem – é, em alguma medida, também<br />
vigente nas concepções que norteiam os i<strong>de</strong>alizadores <strong>de</strong> programas<br />
massivos <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> adultos. Governos alimentam expectativas<br />
<strong>de</strong> que um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> inscrições sejam feitas quando do<br />
lançamento <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> alfabetização que visam aten<strong>de</strong>r às massas.<br />
O número <strong>de</strong> inscrições, porém, é, geralmente, muito inferior ao<br />
esperado, além <strong>de</strong> a maioria dos ingressantes <strong>de</strong>sistirem ainda no<br />
começo do processo 74 . Sobre essa questão, Stromquist (2005) afirma<br />
que as motivações dos alunos na busca por um programa <strong>de</strong><br />
alfabetização formal ten<strong>de</strong>m a ser diferentes das manifestadas pelos<br />
i<strong>de</strong>alizadores dos programas.<br />
Essas incompatibilida<strong>de</strong>s existentes entre os potenciais<br />
alfabetizandos e os i<strong>de</strong>alizadores <strong>de</strong> tais programas <strong>de</strong> alfabetização<br />
po<strong>de</strong>m ser um dos motivos do fracasso na implementação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
parte <strong>de</strong>sses programas. Para a autora, o que move esses adultos ao<br />
processo <strong>de</strong> escolarização são razões bem mais mo<strong>de</strong>stas do que as<br />
pretensões dos i<strong>de</strong>alizadores dos programas já mencionadas; são, por<br />
exemplo, da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a assinar o nome, <strong>de</strong> ampliar o<br />
conhecimento lexical, ou simplesmente sair <strong>de</strong> casa e ter algumas horas<br />
<strong>de</strong> relaxamento. Além disso, a autora pontua que muitas vezes esses<br />
programas, embora se dirijam a pessoas adultas analfabetas, acabam por<br />
receber como inscritas pessoas com diferentes domínios da escrita, o<br />
que po<strong>de</strong>ria contribuir, em alguma medida, para a <strong>de</strong>sistência dos<br />
efetivamente analfabetos (STROMQUIST, 2005).<br />
Quando analisadas as principais motivações <strong>de</strong>sses adultos na<br />
busca por programas <strong>de</strong> alfabetização institucionalizados, parece que<br />
elas têm natureza bem mais imediata e prática do que o que intentam os<br />
i<strong>de</strong>alizadores <strong>de</strong> programas, isto é, apren<strong>de</strong>r a assinar o nome para não<br />
mais ter <strong>de</strong> usar i<strong>de</strong>ntificação digital e com isso evitar o<br />
constrangimento sofrido pela estigmatização <strong>de</strong>sse ato, ou ampliar os<br />
recursos expressivos a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r interagir com pessoas <strong>de</strong> outros<br />
grupos sociais; ou, ainda, aprimorar ou passar a dominar escrita, leitura<br />
e cálculo, o que melhoraria seu <strong>de</strong>sempenho em contexto profissional a<br />
fim <strong>de</strong> conseguir um emprego, melhorar o <strong>de</strong>sempenho das ativida<strong>de</strong>s<br />
profissionais ou conseguir uma promoção, ou, por fim, potencializar seu<br />
74 Segundo Kleiman (2006), nas gran<strong>de</strong>s campanhas <strong>de</strong> alfabetização, cerca <strong>de</strong> 50% dos alunos<br />
se eva<strong>de</strong>m.