Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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Em (73), observamos a prevalência <strong>de</strong> materiais avulsos,<br />
aspecto discutido no capítulo 7 <strong>de</strong>ste estudo. Observamos, também, que<br />
o empreendimento no sentido <strong>de</strong> fomentar a compreensão leitora dos<br />
alfabetizandos não é bem sucedido, a exemplo <strong>de</strong> outros episódios. Isso<br />
po<strong>de</strong> ser explicado pela não significação para os alunos dos materiais<br />
escritos trabalhados nessa aula e das ativida<strong>de</strong>s relacionadas a eles,<br />
talvez por tais materiais terem sua circulação restrita à esfera escolar,<br />
como ocorre tipicamente com os textos vinculados nos livros didáticos,<br />
o que parece ser o caso <strong>de</strong>sses textos e <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s pela<br />
configuração prototípica sob a qual se revelam.<br />
Há, no entanto, uma preocupação docente em manter na ação<br />
pedagógica um olhar culturalmente sensível (ERICKSON, 1989),<br />
visível no momento em que a professora recolhe a ativida<strong>de</strong> e propõe<br />
outra que esteja mais a<strong>de</strong>quada à <strong>de</strong>manda. Essa sensibilida<strong>de</strong> às<br />
vivências dos alunos é tema fulcral também na obra freiriana. Para o<br />
autor, a leitura da palavra, da frase, da sentença, não po<strong>de</strong> significar uma<br />
ruptura com a “leitura” do mundo. A leitura da palavra <strong>de</strong>ve ser a leitura<br />
da ‘palavramundo’. No pensamento <strong>de</strong> Freire (2009 [1982]), o<br />
movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo <strong>de</strong>ve estar<br />
sempre presente no processo.<br />
Essa segunda ativida<strong>de</strong> parece-nos bem sucedida. Os alunos a<br />
realizam e produzem um texto que se relaciona com o local on<strong>de</strong> vivem,<br />
sobre o qual querem falar, ou seja, a ativida<strong>de</strong> suscita a hibridização<br />
entre os universos local e global <strong>de</strong>fendida por Street (2003).<br />
Convergente com essa concepção, o i<strong>de</strong>ário freiriano, como acabamos<br />
<strong>de</strong> mencionar, advoga em favor da consi<strong>de</strong>ração das vivências dos<br />
alunos, ao que os estudos do letramento acrescentam a importância da<br />
“[...] focalização do local, para além das condições sociais e<br />
econômicas, o modo como a cultura escrita circula, é apropriada e<br />
constitui as relações sociais nesses contextos” (VÓVIO, 2010, p. 108),<br />
tal qual já mencionamos aqui.<br />
A ação em direção à implementação da compreensão leitora<br />
realizada pela docente não avança provavelmente pela concepção que<br />
subjaz à i<strong>de</strong>alização do trabalho. A gran<strong>de</strong> maioria dos textos que<br />
ancoram a ação docente tem sua existência circunscrita à esfera escolar,<br />
logo não reverbera para a dimensão extraescolar, o que po<strong>de</strong> ser<br />
explicado à luz do mo<strong>de</strong>lo autônomo <strong>de</strong> letramento (STREET, 1984).<br />
Tal mo<strong>de</strong>lo, como discutimos anteriormente, se caracteriza pela<br />
(tentativa <strong>de</strong>) dissociação das dimensões social e política nas práticas <strong>de</strong><br />
leitura e escrita. Essa dissociação entre a escrita, a leitura e os aspectos<br />
sociopolíticos solidifica falsas concepções, como a pseudoneutralida<strong>de</strong>