Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>alização <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> alfabetização até a ação pedagógica<br />
em si mesma e o processo <strong>de</strong> aprendizagem dos sujeitos. Dessa forma,<br />
em nosso entendimento, o processo <strong>de</strong> alfabetização não po<strong>de</strong> mais ser<br />
compreendido como in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do contexto social e histórico em que<br />
se processa, sendo focado em um conjunto <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s cognitivas, em<br />
abordagens didático-pedagógicas que se preten<strong>de</strong>m neutras e que têm<br />
fim em si mesmas. Indicadores massivos – a exemplo, hoje, do Inaf 69 –<br />
têm apontado, segundo Soares (2005), mudanças ocorridas (a partir <strong>de</strong><br />
1950) nas abordagens do alfabetismo, as quais passaram a contemplar<br />
questões acerca dos usos efetivos que a população faz da escrita –<br />
anteriormente, importava se sabiam ler e escrever um bilhete simples –,<br />
para uma ampliação do conceito <strong>de</strong> alfabetização, ou seja, já não é mais<br />
consi<strong>de</strong>rado alfabetizado o sujeito que <strong>de</strong>clara saber ler e escrever, mas<br />
aquele que sabe usar leitura e escrita no bojo <strong>de</strong> práticas sociais em que<br />
a escrita é necessária. A forma como se dá o processo <strong>de</strong> pesquisa<br />
levado a termo pelo Inaf parece ser bom exemplo <strong>de</strong>ssas mudanças, já<br />
que nesse processo os sujeitos são convidados a manipular suportes que<br />
contêm gêneros discursivos diversos, interagindo por meio dos textos<br />
escritos nesses gêneros 70 .<br />
Esses apontamentos convergem para a dimensão <strong>de</strong> uso social<br />
da escrita presente no processo <strong>de</strong> alfabetização, o que dá conta da<br />
impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar a assepsia da dimensão social <strong>de</strong>sse<br />
processo, a que já fizemos menção anteriormente. Assim como Graff<br />
(1994, p. 14), enten<strong>de</strong>mos que a alfabetização <strong>de</strong>ve ser “[...]<br />
conceitualizada como um atributo contínuo, amplamente variável e nãolinear<br />
[...]”, ou seja, esse processo não <strong>de</strong>ve ser concebido como um<br />
pacote-pronto a ser ‘entregue/repassado’ aos alfabetizandos e que, uma<br />
vez adquirido, constitui um processo acabado.<br />
Esses novos encaminhamentos conceituais conferidos à<br />
alfabetização são, em alguma medida, reflexo dos estudos do<br />
letramento. Vóvio (2010), retomando pressupostos <strong>de</strong> Kalman (2004),<br />
afirma que, a partir dos estudos do letramento, alfabetizar-se ganhou<br />
novos contornos, envolvendo o aprendizado da manipulação da<br />
linguagem escrita <strong>de</strong> forma consciente a fim <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> eventos<br />
culturalmente valorizados e relacionados com outros eventos que<br />
envolvem a escrita. Sob essa perspectiva, alfabetização passa a ser<br />
concebida como prática social, e sua relevância se institui na resposta a<br />
69 No capítulo A(na)lfabetismo adulto: aspectos históricos, indicadores e programas, neste<br />
texto, já apresentamos esse indicador.<br />
70 Disponível em http://www.ipm.org.br/ipmb_pagina.php?mpg=4.02.00.00.00&ver=por,<br />
acesso em 28/03/2010.<br />
91