Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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sempre, sempre [...] (E.); (52) mas não apren<strong>de</strong>ndo a educação no<br />
colégio não é a mesma coisa, porque você não tem noção[...] (MG.) –<br />
sugerem um entendimento, por parte <strong>de</strong>ssas senhoras, <strong>de</strong> que a escola<br />
tenha um valor em si mesma ou, por outro lado, suscitam uma<br />
supervalorização da instituição escolar. As participantes <strong>de</strong> pesquisa<br />
evi<strong>de</strong>nciam, nas falas, a incorporação <strong>de</strong>sse discurso que está, também,<br />
subjacente à maioria das iniciativas <strong>de</strong> alfabetização em massa e acaba<br />
por ser incorporado pelo senso-comum.<br />
Com relação ao papel da escola e ao espaço da alfabetização,<br />
Graff (1994) afirma que os lugares da alfabetização e da escolarização<br />
não po<strong>de</strong>m ser entendidos nem como sacrossantos nem como muito bem<br />
compreendidos. Para o autor, ocorre que estamos familiarizados com a<br />
centralida<strong>de</strong> da alfabetização <strong>de</strong> tal forma que reorientamos nosso<br />
pensamento a respeito dos papéis e da relevância da alfabetização e da<br />
escolarização, processo em que ten<strong>de</strong>mos a superestimar sua influência<br />
no <strong>de</strong>lineamento das relações sociais. Segundo o autor, “[...] nós<br />
supervalorizamos a alfabetização, por si mesma e, ao fazê-lo, nós a<br />
removemos <strong>de</strong> seu contexto sócio-cultural” (GRAFF, 1994, p. 29).<br />
Trata-se, aqui, tal qual adverte Britto (2004), <strong>de</strong> <strong>de</strong>purar os ganhos ou<br />
perdas da/com a alfabetização <strong>de</strong> suas contingências socioeconômicas e<br />
políticas.<br />
Compartilhamos com esses autores a compreensão <strong>de</strong> que<br />
perpassam a alfabetização fatores <strong>de</strong> natureza econômica, política e<br />
social que não po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>negados, sob pena <strong>de</strong> atribuirmos ao<br />
domínio do sistema escrito e aos usos a que esse sistema se presta, em si<br />
mesmos, uma dimensão socialmente re<strong>de</strong>ntora, o que termina por<br />
<strong>de</strong>legar ao indivíduo – secundarizando especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua inserção<br />
sociocultural e econômica – a culpa pelo fracasso ou os louvores<br />
<strong>de</strong>correntes do sucesso na conquista <strong>de</strong> um lugar social em seu tempo<br />
histórico, enten<strong>de</strong>ndo, aqui, fracasso e sucesso à luz <strong>de</strong> expectativas<br />
sociais historicamente construídas do que seja ter qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />
contemporaneamente.<br />
Nessa perspectiva, o acesso à alfabetização não é visto por parte<br />
<strong>de</strong> muitos analfabetos como um direito adquirido ou <strong>de</strong> perspectiva<br />
coletiva; é, na maioria das vezes, concebido pelo mérito atribuído ao<br />
esforço individual (GALVÃO; DI PIERRO, 2007, p. 15). Essa relação<br />
fica nítida nos trechos em negrito dos excertos imediatamente anteriores.<br />
Neles – (43) Eu, na realida<strong>de</strong>, parei <strong>de</strong> estudar porque sabe quando a<br />
gente é adolescente, a gente quer ter o dinheirinho da gente e, como<br />
antigamente não é como agora, os pais não <strong>de</strong>ixavam a gente estudar<br />
<strong>de</strong> noite, então eles disseram pra escolher ‘ou tu vai trabalhar ou se não