Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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1 CAPÍTULO INTRODUTÓRIO: A APRESENTAÇÃO DO<br />
OBJETO DE PESQUISA E DA ORGANIZAÇÃO DA<br />
DISSERTAÇÃO<br />
27<br />
Os peixes disseram para a tartaruga:<br />
“Não nos diga o que não é. Nos diga o que é”.<br />
“Não consigo”, disse a tartaruga:<br />
“Não tenho uma língua para <strong>de</strong>screver isso”.<br />
(Street, 2010 – excerto <strong>de</strong> história <strong>de</strong> autor <strong>de</strong>sconhecido)<br />
Estamos inseridos em um contexto crescentemente mais<br />
grafocêntrico (FISCHER, 2006) e essa realida<strong>de</strong> acaba por cercear, por<br />
um lado, e alargar, por outro, nossas ações, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do domínio que<br />
temos da leitura e da escrita em usos <strong>de</strong> natureza diversificada. Assim,<br />
mesmo em se tratando <strong>de</strong>ssa nova configuração em que a modalida<strong>de</strong><br />
escrita da língua ganha especial espaço, existe ainda um gran<strong>de</strong> número<br />
<strong>de</strong> pessoas no Brasil que fica à margem do processo <strong>de</strong> produção e<br />
usufruto dos bens sociais por não ter se apropriado, <strong>de</strong> modo efetivo e<br />
em seu próprio benefício, <strong>de</strong> muitas <strong>de</strong>ntre as práticas <strong>de</strong> leitura e<br />
escrita. A marginalização <strong>de</strong>ssa parcela da população constitui, para as<br />
principais agências <strong>de</strong> letramento – escola e universida<strong>de</strong> –, em<br />
<strong>de</strong>terminados contextos socioeconômicos e culturais, uma agenda<br />
<strong>de</strong>safiadora (OLIVEIRA; KLEIMAN, 2008).<br />
Embora não haja compartilhamento <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong><br />
letramento valorizados socialmente (HEATH, 2001 [1982]) por parte<br />
<strong>de</strong>ssas pessoas, as dificulda<strong>de</strong>s impostas por socieda<strong>de</strong>s grafocêntricas<br />
não <strong>de</strong>vem significar que adultos analfabetos ou pouco escolarizados<br />
não possam <strong>de</strong>senvolver estratégias que lhes permitam sobreviver e se<br />
mover nesses meios urbanos, ainda que evi<strong>de</strong>ntemente não advoguemos<br />
em favor <strong>de</strong> vivências <strong>de</strong> algum modo circunscritas, quer pelo não<br />
domínio da escrita, quer por questões <strong>de</strong> natureza socioeconômica mais<br />
ampla ou, inequivocamente, pela associação <strong>de</strong> ambos os fatores.<br />
Pensar essa realida<strong>de</strong> contextual grafocêntrica e as estratégias<br />
<strong>de</strong>senvolvidas por essas pessoas adultas analfabetas ou pouco<br />
escolarizadas acaba por englobar questões como as relações <strong>de</strong> exclusão<br />
e inclusão às quais são submetidos os alfabetizandos, tanto quanto a<br />
natureza dos programas <strong>de</strong> alfabetização e suas bases teóricas, o que<br />
remete às diferentes concepções que norteiam a alfabetização <strong>de</strong> adultos,<br />
bem como às interveniências da alfabetização em questões <strong>de</strong><br />
acessibilida<strong>de</strong> social, empregabilida<strong>de</strong>, construção i<strong>de</strong>ntitária etc.<br />
Implica, também, a compreensão da escolarização como uma <strong>de</strong>ntre as