Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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informação, como se isso se <strong>de</strong>sse apenas pelo mundo dos livros,<br />
negligenciando outras formas <strong>de</strong> conhecimento e acesso a informação<br />
típicas <strong>de</strong>sses contextos.<br />
Com relação ao pensamento <strong>de</strong> Gee (2004), esse autor remete,<br />
num primeiro momento, a questões envolvidas no processo <strong>de</strong><br />
aprendizagem ou não da leitura e da escrita. O estudioso adverte para o<br />
fato <strong>de</strong> a aprendizagem da escrita não ser uma ativida<strong>de</strong> natural,<br />
biológica e inata, do mesmo modo que não é também um processo <strong>de</strong><br />
instrução explícita; Gee (2004) a toma como um processo cultural, o<br />
que tem implicações nas dificulda<strong>de</strong>s com a leitura enfrentadas hoje<br />
na/pela escola. Isso porque, a aprendizagem da leitura e da escrita ganha<br />
na escola natureza instrucional, sobretudo em se tratando das populações<br />
inseridas em entornos <strong>de</strong> baixos níveis <strong>de</strong> alfabetismo: nesses contextos,<br />
a apropriação dos usos da escrita ten<strong>de</strong> a não se estabelecer como um<br />
processo cultural, vivenciado nas relações interpessoais que têm lugar<br />
no cotidiano.<br />
Dessa forma, para os sujeitos que apren<strong>de</strong>m leitura como um<br />
processo cultural, esse processo tem raízes no lar, como uma prática que<br />
cresce e se instaura antes mesmo da escolarização; enquanto que sujeitos<br />
que não chegam à escola com essas vivências acerca da leitura e<br />
precisam apren<strong>de</strong>r a ler como um processo instrucional estão em franca<br />
<strong>de</strong>svantagem em relação ao outro grupo (GEE, 2004), já que a formação<br />
do leitor tem imbricações muito estreitas com as relações<br />
intersubjetivas que o sujeito entabula em suas vivências cotidianas, não<br />
sendo possível conceber que uma aprendizagem/formação nesse nível se<br />
dê intrassubjetivamente na assepsia das relações sociais, assim como é<br />
vigente no i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> muitos programas <strong>de</strong> alfabetização e <strong>de</strong> formação<br />
<strong>de</strong> leitores.<br />
Britto (2003), a seu turno, atenta, num primeiro momento, para<br />
a diferenciação entre os processos <strong>de</strong> alfabetização e <strong>de</strong> formação do<br />
leitor. Segundo o autor, o sujeito a quem se dirigem as campanhas <strong>de</strong><br />
incentivo à leitura é um sujeito que está, em tese, alfabetizado, mas que,<br />
por razões como falta <strong>de</strong> motivação, questões relativas ao acesso, modo<br />
<strong>de</strong> vida etc., não lê ou não faz leituras consi<strong>de</strong>radas importantes para a<br />
cidadania, como o caso da leitura por fruição que o projeto em questão<br />
se propõe a fomentar. Estão implicadas na natureza <strong>de</strong>ssas razões para a<br />
não leitura prototípica, como a esperada pelos programas <strong>de</strong> formação<br />
<strong>de</strong> leitores, relações intersubjetivas estabelecidas nas vivências<br />
cotidianas, as quais, mais uma vez, não se dão em um vácuo<br />
socioeconômico e político.