Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
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marcas distintas da pobreza, uma alegoria da condição <strong>de</strong> subalternida<strong>de</strong><br />
(GALVÃO; DI PIERRO, 2007).<br />
Ainda no que tange a essa discussão, vale registrar que,<br />
historicamente, o surgimento <strong>de</strong> numerosas tecnologias <strong>de</strong>flagrou um<br />
temor <strong>de</strong> que elas se tornassem ameaças ao livro e à leitura. Tais<br />
tecnologias, porém, têm potencializado as <strong>de</strong>mandas por leitura e escrita<br />
– e, não têm, como se supunha, inibido ambos os processos –; ou seja,<br />
seu advento contrariou a expectativa negativa que se havia construído<br />
em torno <strong>de</strong>las; e leitura e escrita estão sendo cada vez mais requeridas,<br />
exatamente por tais aparatos no campo das novas tecnologias. É certo<br />
que hoje esse avanço tecnológico permite usos diferentes da escrita, a<br />
exemplo <strong>de</strong> e-mail ou “torpedo” em lugar <strong>de</strong> telefonema, e <strong>de</strong> chats em<br />
lugar <strong>de</strong> reuniões presenciais, para citar apenas alguns exemplos 72 . Tais<br />
possibilida<strong>de</strong>s, porém, só se configuram efetivamente como opções se o<br />
sujeito for alfabetizado <strong>de</strong> fato e, com isso, pu<strong>de</strong>r optar pela modalida<strong>de</strong><br />
que melhor lhe convier, o que, sem dúvida, não é plenamente facultado<br />
ao analfabeto ou àquele com domínio muito rudimentar <strong>de</strong> leitura e<br />
escrita (KLEIMAN, 2001a).<br />
É inegável, no entanto, que, embora <strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s<br />
permeadas pela escrita não sejam acessíveis a analfabetos, “[...] a cultura<br />
letrada está amplamente disseminada no país e [...] mesmo as pessoas<br />
analfabetas relacionam-se com o mundo letrado <strong>de</strong> diversas formas”<br />
(RIBEIRO, 2004, p. 20), questão a que já fizemos remissão nas<br />
discussões sobre letramento no terceiro capítulo <strong>de</strong>sta dissertação. Para<br />
Britto (2004, p. 50), “[...] o aspecto mais significativo do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das formas <strong>de</strong> escrita foi a expansão da possibilida<strong>de</strong><br />
da memória registrada e <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> organização mais estruturadas e<br />
<strong>de</strong> controle sistemático”. Ainda sobre essa questão, Britto (2004, p. 50)<br />
afirma que<br />
[...] pertencer à cultura escrita significa [...] mais<br />
que a soma dos conhecimentos e capacida<strong>de</strong>s<br />
individuais no uso da leitura e da escrita. Na<br />
medida em que a pessoa se emprega, na medida<br />
em que utiliza os instrumentos e aparatos<br />
72 Exemplos do grafocentrismo atual: segundo a revista Veja (abril <strong>de</strong> 2010), há 150 sites para<br />
cada habitante do planeta; segundo essa mesma revista (fevereiro <strong>de</strong> 2011), o twitter e as re<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> relacionamento foram fatores <strong>de</strong>terminantes na mobilização popular que <strong>de</strong>stituiu o ditador<br />
egípcio em 2011 e, segundo edição do Jornal Nacional em maio <strong>de</strong> 2010, o uso <strong>de</strong> dados é<br />
maior do que o uso <strong>de</strong> voz nos USA: um trilhão e 500 bilhões <strong>de</strong> mensagens nos EUA em<br />
2009 – 50% a mais do que o as ligações telefônicas.