Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Oliveira, Paula Felipe Schlemper de - UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
254<br />
do ensino, o entendimento <strong>de</strong> leitura e escrita como sistemas<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e fechados em si mesmos e a supervalorização da escola<br />
no processo <strong>de</strong> ‘aquisição’ <strong>de</strong> ‘altos níveis <strong>de</strong> letramento’, reproduzindo,<br />
em alguma medida, a cultura <strong>de</strong> grupos dominantes.<br />
Nesse sentido, Corti e Vóvio (2007) afirmam que são<br />
estratégias fundamentais nessa etapa <strong>de</strong> apropriação/implementação dos<br />
usos da escrita a exposição dos educandos a variados textos e situações<br />
<strong>de</strong> produção e a análise e reflexão sobre tais textos. Não bastando,<br />
assim, a observação e a cópia <strong>de</strong>les e, sim, que eles sejam alvo <strong>de</strong><br />
reflexão mais ampla, como, por exemplo, sobre o tipo <strong>de</strong> letra, se há<br />
imagens ou não e qual a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las, quais os recursos linguísticos<br />
utilizados (termos, expressões, palavras, tom formal ou informal etc.),<br />
on<strong>de</strong> foi publicado, entre outras questões. Assim, há que se associar,<br />
pelo menos, minimamente, o texto à esfera <strong>de</strong> circulação, ao suporte;<br />
enfim, à natureza das relações interpessoais que ele institui na vida<br />
humana (BAKHTIN, 2003 [1952/53]), condição irrevogável para que os<br />
eventos <strong>de</strong> letramento propostos na escola reverberem fora <strong>de</strong>la, ou, em<br />
se tratando <strong>de</strong> nossas questões <strong>de</strong> pesquisa, condição irrevogável para<br />
que o processo <strong>de</strong> escolarização ressignifique práticas <strong>de</strong> letramento<br />
dos alunos.<br />
À luz do contexto <strong>de</strong>scrito e consi<strong>de</strong>rando especificamente as<br />
expectativas das alunas participantes <strong>de</strong>sta pesquisa, que, como<br />
discutimos no capítulo 8, são, basicamente, <strong>de</strong> duas naturezas:<br />
implementação dos saberes, com uma relação, no entendimento das<br />
alunas, muito estreita com os conteúdos tipicamente escolares e intenção<br />
profissional, quer seja pela continuida<strong>de</strong> dos estudos e, com isso,<br />
formação profissional específica ou possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar concursos,<br />
ou, ainda, pela possível ascensão ou ocupação a/<strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s<br />
profissionais, legitimadas socialmente, enten<strong>de</strong>mos que a escola, <strong>de</strong>ntro<br />
do seu escopo, contempla essas expectativas. Isso se dá na medida em<br />
que, paralelamente ao trabalho metodologicamente embasado nas<br />
pesquisas, que, salvaguardados os eventuais arrevezamentos,<br />
implementam os saberes <strong>de</strong>ssas participantes, ainda que esses tenham<br />
implicações circunscritas à dimensão escolar, os conteúdos tipicamente<br />
escolares são trabalhados durante as oficinas e a ação docente<br />
en<strong>de</strong>reçada às questões linguísticas.<br />
Quanto à questão profissional, há que se fazer uma remissão ao<br />
pensamento <strong>de</strong> Graff (1994). Nele, é central a questão <strong>de</strong> que a<br />
alfabetização por si só não gera necessariamente o progresso, pessoal ou<br />
social, isso porque os usos e as funções da escrita diferem muito <strong>de</strong><br />
socieda<strong>de</strong> para socieda<strong>de</strong> e entre os grupos sociais. Entretanto, para as