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Discorrendo especificamente sobre o uso do dístico evolucionista “sobrevivência do mais<br />

apto” na esfera social, escreveu: “A aplicação da ciência às questões sociais é ainda mais<br />

recente do que as suas aplicações à Psicologia. É bem verdade que, desde o início do<br />

século XIX, já se pode reconhecer nos estudos sociais vários campos em que há indícios<br />

de uma atitude científica. A teoria da população de Malthus, seja ela considerada falsa<br />

ou verdadeira, é, seguramente, científica. Os argumentos de que ele se serve para<br />

sustentá-la não são pontos de vista pessoais, mas baseiam-se em estatísticas<br />

demográficas e em dados a respeito dos recursos agrícolas. Adam Smith e Ricardo<br />

também demonstraram atitude científica nos seus trabalhos de Economia Política. Não<br />

quero, com isto, afirmar que as teorias por eles expostas sejam sempre verdadeiras, mas<br />

apenas que os seus pontos de vista e os seus raciocínios apresentam as características do<br />

método científico. Influenciado por Malthus, apareceu Darwin e, com Darwin, o<br />

darwinismo que, ao ser aplicado à política, perdeu o seu caráter científico. A frase<br />

“sobrevivência dos mais aptos” é empregada pelos intelectuais que especulam a respeito<br />

de questões sociais, muito mais freqüentemente do que seria justo. Essa expressão “mais<br />

aptos” parece ter implicações éticas, seguindo daí que a nação, a raça e a classe a que um<br />

escritor pertence deve ser necessariamente “a mais apta”. Assim, sob a égide de uma<br />

filosofia pseudo-darwinista chegamos às doutrinas do Perigo Amarelo, da Austrália<br />

para os australianos, da superioridade da raça nórdica etc. Por causa dessas implicações<br />

éticas, devemos encarar com muita suspeita as aplicações do darwinismo às questões<br />

sociais. Isto não se aplica somente às diferenças entre raças, mas também as diferenças<br />

entre as classes de uma nação. Todos os escritores darwinistas pertencem às chamadas<br />

classes intelectuais, e, por causa disso, a afirmação de que essas classes são as mais<br />

desejáveis biologicamente falando constitui um postulado da política darwinista. Segue<br />

daí que os filhos dessas classes devem receber, às expensas públicas, uma educação<br />

melhor do que a que é dada aos filhos dos assalariados. É impossível reconhecer em todos<br />

estes argumentos uma aplicação da ciência às questões práticas. Há, apenas, o emprego<br />

de certa linguagem científica, com a finalidade de dar respeitabilidade a um ponto de<br />

vista pessoal.” 106<br />

Russel não foi o primeiro a tecer este tipo de crítica ao darwinismo. Desde seus<br />

primórdios a teoria evolucionista esteve constantemente sob a análise das questões sociais,<br />

nas quais está seu legítimo alicerce. Por mais que seus defensores ignorem este fato, a<br />

literatura que versa sobre Darwin, sempre aponta ligação entre suas idéias e a sociedade. O<br />

Darwinismo Social, do qual não se isenta Darwin, sintetiza em si toda esta discussão, e no<br />

qual o naturalista “repousa às margens esplêndidas”, especialmente em sua obra menos<br />

conhecida “A Origem do Homem e a Seleção Sexual”, da qual extraímos este exemplo:<br />

“Nas nações civilizadas, enquanto não for atingido um adiantado nível de moralidade e<br />

um notável número de homens sinceramente bons, a seleção natural tem efeitos<br />

aparentemente escassos, embora os instintos sociais fundamentais sejam<br />

originariamente adquiridos por seu intermédio. Quando tratei das raças inferiores, falei<br />

suficientemente das causas que levam a um progresso da moralidade, isto é, a aprovação<br />

dos nossos semelhantes — o fortalecimento da nossa simpatia pelo hábito — o exemplo e<br />

a imitação — a razão — a experiência — e também o interesse pessoal — a educação na<br />

juventude e os sentimentos religiosos. Greg e Galton muito têm insistido sobre o<br />

obstáculo mais importante, existente nos países civilizados, contra o aumento do número<br />

dos homens de classe superior, isto é, sobre o fato de que os mais pobres e os negligentes,<br />

que frequentemente são degradados pelo vício, quase invariavelmente se casam antes,<br />

enquanto que os prudentes e os frugais, que em geral são virtuosos também em outras<br />

maneiras, contraem matrimônio em idade avançada, com a finalidade de poderem ser<br />

capazes de permanecer, eles mesmos e os seus filhos, na comodidade. Os que se casam<br />

antes produzem em dado momento não só um maior número de gerações, mas põem no<br />

mundo muito mais filhos, conforme tem demonstrado o Dr. Duncan. Ademais, os filhos<br />

que são gerados da mãe durante os primeiros anos de vida são mais gordos e,<br />

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