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Por que a África?<br />

Num dia desses, perambulando por uma dessas férteis<br />

bibliotecas aqui de São Paulo, deparei-me com um livro a que<br />

se pode denominar “quase tipicamente darwinista.” O autor é<br />

Robert Foley, e o título da obra “Os Humanos antes da<br />

Humanidade: Uma perspectiva Evolucionista”, publicado pela<br />

Editora Unesp. Porém, o que me prendeu a atenção mesmo<br />

foi um capítulo intitulado: “Por que a África?”, onde o autor<br />

discorre acerca dos motivos pelos quais a África teria sido a<br />

região onde deu origem ao homem. Em sua análise, Foley<br />

afirma que o conhecimento sobre a evolução humana seria<br />

determinado não pela realidade evolucionária, mas por<br />

acidentes geológicos: "Talvez, então, a história africana que contamos não passe de uma<br />

ilusão." 51<br />

Foi neste contexto que me veio à mente os primeiros conceitos de evolução humana<br />

segundo os pioneiros do darwinismo. Lembrei-me então do naturalista alemão Ernst<br />

Haeckel e de seu modelo de “árvore da evolução humana”, onde um dos “galhos” era um<br />

negro africano.<br />

Recordei-me de outros antigos cientistas contemporâneos de Darwin, tais quais<br />

Galton, Spencer, Broca entre outros. E, finalmente, vieram-me à lembrança as próprias<br />

idéias do naturalista inglês concernente às “raças humanas.” Assim, somando todo este<br />

legado evolucionista, não foi difícil de “hereticamente” hipotecar algo sobre o porquê ter<br />

sido a África a escolhida como sendo o “berço da humanidade.”<br />

É claro, de acordo com os darwinistas os fósseis foram determinantes para a eleição<br />

deste continente. Contudo, o mesmo Foley pede cautela quanto a isso: "Quando se trata do<br />

registro de fósseis, o ceticismo é sempre uma atitude saudável, e muita cautela é decerto<br />

necessária quanto à visão de que a área que melhor preserva os fósseis deveria também<br />

ser a área que crias as melhores condições para a especiação."<br />

Ademais, é necessário levar em conta, também, o fascínio de muitos dos antigos<br />

cientistas por formas intermediárias as quais pudessem provar os diversos estágios porque<br />

teria passado a evolução, mais exatamente e evolução humana. Gould, em “O Sorriso do<br />

Flamingo”, discorrendo, por exemplo, acerca das idéias de Edward Tyson (“Apresentando<br />

um macaco”) tece os seguintes comentários:<br />

“Os cientistas buscavam formas intermediárias com avidez (e inquietude); a<br />

descoberta de Tyson produziu uma confirmação bem-vinda de uma teoria estabelecida a<br />

cadeia do ser, não um desafio baseado numa idéia radicalmente diferente a evolução, a<br />

qual não seria ampla e seriamente discutida por mais um século. A obra de Tyson<br />

recebeu poucos comentários porque era confortadora e não polemica.<br />

Alem disso, o uso de Tyson do método comparativo não o caracteriza como um<br />

modernista esclarecido, mas surge também do seu compromisso com a cadeia do ser.<br />

Quando se deseja colocar um animal entre um macaco e um humano, o que mais se pode<br />

fazer além de catalogar a sua semelhança relativa com cada um?" 52<br />

Tayson foi um dos que abriram caminho para as perigosas idéias do darwinismo<br />

social, em que o africano fora posto por razões ideológicas como o intermediário mais<br />

próximo entre o homem e o chimpanzé. Quem não conhece, por exemplo, a história de Ota<br />

Benga, negro africano que fora trazido de sua pátria e posto em uma jaula para apreciação<br />

pública, a fim de demonstrar uma estreita relação entre os africanos e os macacos?<br />

Darwin, embora fosse abolicionista (o que apenas refletia os próprios interesses da<br />

Coroa inglesa), sempre via nos negros uma raça incivilizada e bem inferior aos brancos<br />

52

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