16.04.2013 Views

Download - eBooksBrasil

Download - eBooksBrasil

Download - eBooksBrasil

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

expressão “tipo superior” nada expressa a mais — perecem mais facilmente: só as<br />

inferiores mantêm seu caráter imperecível em aparência. As primeiras são realizadas<br />

com bastante raridade e mantêm-se dificilmente: as últimas têm a seu favor uma<br />

fecundidade comprometedora. Na humanidade também os tipos superiores, os casos<br />

felizes da evolução, com alternativas de boa e má sorte, perecem mais facilmente. São<br />

expostos a toda espécie de decadência; são extremos, e isso basta para torná-los quase<br />

decadentes... A curta duração da beleza, do gênio de César, é sui generis: tais qualidades<br />

não se transmitem por hereditariedade.<br />

O tipo é hereditário; nada tem de extremo, não é um “lanço da sorte”... Não há<br />

nisso qualquer fatalidade particular, qualquer malquerer da natureza, mas<br />

simplesmente a idéia do “tipo superior”; o tipo superior representa uma complexidade<br />

infinitamente maior, — uma soma maior de elementos coordenados: eis por que a<br />

desagregação é infinitamente mais provável. O “gênio” é a máquina mais sublime que<br />

existe, — e por isso mesmo a mais frágil.<br />

Terceira proposição: a domesticação (a “cultura”) do homem não atinge as<br />

camadas mais profundas... Em toda a parte onde penetra profundamente torna-se<br />

também degenerescência (o tipo de cristão). O homem “selvagem” (ou, para melhor<br />

expressar-me sob o ângulo moral, o homem mau) é um retorno à natureza — e, num<br />

certo sentido, um restabelecimento, uma cura da “cultura”...<br />

O que mais me surpreende, quando passo em revista os grandes destinos da<br />

humanidade, é ter sempre diante dos olhos o contrário do que hoje vêem ou do que<br />

desejam ver Darwin e sua escola: a seleção em favor dos seres mais fortes e bemnascidos,<br />

o progresso da espécie. Mas é precisamente o contrário o que entra pelos olhos:<br />

a supressão dos casos felizes, a inutilidade dos tipos melhor nascidos, a dominação<br />

inevitável dos tipos médios e até dos que estão abaixo da mediania. A menos que me<br />

demonstrem a razão que determina ser o homem exceção entre as criaturas, inclino-me a<br />

crer que a escola de Darwin errou em tudo. Essa vontade de potência, em que reconheço<br />

o fundo e o caráter de toda mutação, explica-nos por que a seleção não se faz<br />

precisamente em favor das exceções e dos acasos felizes: os mais fortes e os mais felizes<br />

são fracos, quando têm contra si os instintos organizados do rebanho, a pusilanimidade<br />

dos fracos e o grande número. Minha perspectiva total do mundo dos valores demonstra<br />

que, nos mais altos valores agora colocados acima da humanidade, não são os acasos<br />

felizes, os tipos de seleção que têm superado, mas os tipos de decadência. — Talvez nada<br />

haja de mais interessante neste mundo que este espetáculo indesejado...<br />

Qualquer singularidade que haja em afirmá-lo, é mister sempre pôr em valor os<br />

fortes contra os fracos, os bem-nascidos contra os mal-nascidos, os saudáveis contra os<br />

degenerados e os doentes por hereditariedade. Se se quer reduzir a realidade numa<br />

fórmula moral, essa moral expressar-se-ia assim: a média vale mais que a exceção, as<br />

formações da decadência mais que a média; a vontade do nada prevalece sobre a<br />

vontade de viver — e a finalidade geral é, desde já, qualquer que seja a maneira em que<br />

se queira expressar, cristã, budista ou schopenhaueriana: “Antes não ser, que ser.”<br />

Revolto-me contra essa maneira de formular a realidade para fazer dela uma<br />

moral: eis por que detesto o cristianismo com um ódio mortal, porque criou palavras e<br />

atitudes sublimes para outorgar a uma realidade detestável o manto do direito, da<br />

virtude, da divindade.<br />

Vejo toda filosofia, vejo toda ciência de joelhos diante da realidade de uma luta<br />

pela vida que é o contrário dessa que ensina a escola de Darwin, quero dizer que percebo<br />

em toda a parte, na primeira fila, sobrando os que comprometem a vida, o valor da vida.<br />

O erro da escola de Darwin tornou-se para mim um problema: como se pode ser tão cego<br />

para enganar-se justamente neste caso?... Pretender que as espécies representam um<br />

progresso, é a afirmação mais desarrazoada do mundo: provisoriamente representam<br />

um nível. Se os organismos superiores se desenvolveram dos organismos inferiores,<br />

nenhum exemplo ao menos o demonstra... Vejo que os inferiores têm a preponderância<br />

313

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!