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Karl Marx e Charles Darwin: além das<br />

barbas<br />

O que haveria de comum entre Charles Darwin e<br />

Karl Marx, além das suas longas barbas?<br />

É sabido que numa nota introdutória da segunda<br />

edição de "O Capital", Karl Marx escreveu como<br />

dedicatória a Charles Darwin: "A Charles Darwin, de<br />

um autêntico amigo seu.”<br />

Já o fiel companheiro de Marx, Engels, manifestou igualmente sua admiração a<br />

Charles Darwin, desta maneira: "A natureza não opera metafisicamente senão<br />

dialeticamente. O nome de Darwin deveria ser relembrado antes de mais nada neste<br />

aspecto.” E mais: "Da mesma forma como Darwin descobriu a lei da evolução na<br />

natureza orgânica, Marx descobriu a lei da evolução da humanidade.”<br />

Bem. Embora pareça paradoxal atribuir alguma relação entre as ideologias<br />

darwinistas e comunistas, de algum modo esta última soube aproveitar muito bem das<br />

idéias do naturalista inglês, para enfeitar ainda mais seu arcabouço teórico. Mas, como<br />

exatamente?<br />

Em "As Idéias de Darwin", Wilma George justifica este aproveitamento da seguinte forma:<br />

"O próprio Marx, pregando, por um lado, a revolução, defendia, de outro, uma forma de<br />

evolução: que os sistemas sociais mutáveis mudavam os sistemas político e econômico e<br />

que estes, em contrapar-tida, mudavam os sistemas sociais, e assim por diante. Isso se<br />

devia mais a dialética hegeliana do que ao darwinismo, mas Marx tinha em grande<br />

consideração a Origem: "o livro de Darwin é muito importante" — : escreveu ele - "e me<br />

convém que sustente a luta de classes na história do ponto de vista da ciência natural.<br />

Tem-se, é claro, que tolerar o tosco método inglês de discurso.” Foi uma teoria<br />

materialista que incorporou a ideia da mudança num dado período de tempo,<br />

selecionada a partir de variações motivadas pelo meio ambiente. Mas isso estava muito<br />

longe de fornecer um argumento para o marxismo, como Engels foi o primeiro a<br />

perceber. O materialismo dialético foi mudan-ça e movimento durante um período de<br />

tempo, mas estava longe do gradualismo... O gradua-lismo e a variação individual<br />

seriam ignorados, a mudança, o materia-lismo e a hereditariedade dos caracteres<br />

adquiridos foram aceitos." 380<br />

Já em seu interessantíssimo livro "Polemos: Uma análise crítica do darwinismo", o<br />

ex-professor da Universidade de Brasília (Unb), José Osvaldo de Meira Penna, dedica um<br />

capítulo todinho sobre a questão. Destaco aqui alguns dos principais pontos :<br />

"É verdade que Marx teria desejado dedicar uma de suas obras a Darwin. No Dos<br />

kapital procurou construir os fundamentos metodológicos de sua visão materialista da<br />

história, acentuando que "Darwin despertou nosso interesse na história da tecnologia<br />

natural, isto é, na formação dos órgãos das plantas e dos animais, como instrumentos de<br />

produção para sustentar a vida.” A partir desse ponto, Marx argumenta se o<br />

desenvolvimento dos órgãos produtivos do homem, dos que serviriam de base material à<br />

organização social, não mereceria atenção especial. Aparentemente, o que aconteceu é<br />

que apenas se entusiasmara com o potencial revolucionário da doutrina do biólogo<br />

inglês, sem levar em conta seu fundamento na realidade. O darwinismo parecia<br />

comprometer a religião e atingia em cheio o "ópio do povo", reforçando uma concepção<br />

paralela à dialética hegeliana que adotara e transformara numa "dialética materialista"<br />

- o que quer que queira isso dizer. Bastava esse paralelismo aparente para lhe merecer os<br />

mais calorosos aplausos. Não percebia que suas consequências não se encaminhavam,<br />

logicamente, para um objetivo condizente com a substituição do capitalismo pelo<br />

socialismo - o qual, por definição, procura justamente eliminar a concorrência e o<br />

335

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