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se. Cada elemento quer prevalecer na relação com os demais e desafia todos eles; a<br />

precedência, todavia, não se confunde com supremacia, nem o combate com extermínio.<br />

Para que ocorra a luta, é preciso que existam antagonistas; e, como ela é inevitável e sem<br />

trégua ou termo, não pode implicar a destruição dos beligerantes. Surge aqui mais um<br />

elemento da concepção nietzschiana de vontade de potência: seu caráter agnóstico.<br />

Graças a ele, a luta, que se desencadeia entre os múltiplos elementos em que atua a<br />

vontade de potência, diferencia-se radicalmente da struggle for life.”<br />

[...]<br />

“No conceito de vontade de potência, as duas noções serão sub-sumidas. Se nele<br />

reaparece a idéia darwiniana de concorrência vital, ela vai na direção oposta à do<br />

próprio Darwin: não se justifica pela necessidade de autoconservação mas aponta para<br />

a superabundância da vida. Aliás, é à Abundanztheorie de Rolph que o filósofo recorre<br />

para criticar o darwinismo. Tanto é que contrapõe ao combate pela vida, ditado pela<br />

autoconservação, e à situação de penúria, criada pela inferioridade da multiplicação dos<br />

meios de subsistência em relação à dos animais. A riqueza, a exuberância e até mesmo o<br />

absurdo esbanjamento” (Cl, Incursões de um extemporâneo, § 14). E conclui que “a luta<br />

pela existência é apenas uma exceção, uma provisória restrição da vontade de viver: a<br />

grande e pequena luta voltam-se, em toda parte, para a preponderância, o crescimento e<br />

a expansão, a potência, conforme a vontade de potência, que é justamente vontade de<br />

vida.”<br />

[...]<br />

“Se o distanciamento em relação à doutrina de Darwin já se faz sentir no segundo<br />

período da obra, certamente acentua-se no terceiro. Nietzsche abandona tanto a idéia de<br />

que a lei de seleção natural poderia aplicar-se aos problemas das ciências do espírito<br />

quanto a de que as naturezas degenerantes contribuiriam para o progresso espiritual da<br />

comunidade. Retomando de forma mais elaborada e veemente a crítica ao darwinismo,<br />

passa a operar em outro registro. Se, no conceito de vontade de potência, mantém a idéia<br />

darwiniana de concorrência vital, em vez de justificá-la pela necessidade de autoconservação,<br />

aponta para a superabundância da vida. Se conserva também a idéia de<br />

luta, entende que se desencadeia entre os múltiplos elementos em que atua a vontade de<br />

potência e não apenas entre os seres vivos e, o mais importante, em vez de implicar o<br />

aniquila-mento dos adversários, reveste-se de caráter agnóstico. “Vejo todos os filósofos”,<br />

declara, “vejo a ciência de joelhos diante da realidade de uma luta pela existência às<br />

avessas, tal como ensina a escola de Darwin, ou seja, vejo por toda parte imporem-se os<br />

que sobrevivem, os que comprometem a vida, o valor da vida. — O erro da escola de<br />

Darwin tomou-se para mim um problema: como se pode estar cego a ponto de não ver<br />

isso.”<br />

[...]<br />

“Ao criticar a idéia de adaptação, no terceiro período da obra, o filósofo poderia<br />

estar visando indiferentemente Darwin, Spencer e até Lamarck, embora em momento<br />

algum o ataque. Aliás, na vontade de potência enquanto vontade orgânica, a noção de<br />

“potência mediadora, que do interior cria formas”, presente em alguns textos, traz<br />

ressonâncias da idéia lamarckiana de energia interna dos seres vivos tentando vencer o<br />

meio depois de explorá-lo. Mas seria possível congregar Lamarck, Darwin e Spencer em<br />

torno da idéia de adaptação — seja porque as variações biológicas resultantes do<br />

exercício de uma necessidade interna ocorreriam sempre no sentido de uma adaptação<br />

melhor (Lamarck), seja porque a formação contínua de novas espécies se caracterizaria<br />

por novos meios de adaptação (Darwin), seja porque a adaptação às condições do meio<br />

representaria o bem almejado pelo ser humano (Spencer). “Põe-se em primeiro plano a<br />

‘adaptação’, isto é, uma atividade de segunda ordem, uma mera reatividade”, afirma<br />

Nietzsche, “e chegou-se a definir a vida mesma como uma cada vez mais adequada<br />

adaptação interna a circunstâncias externas (Herbert Spencer). Com isso, porém, à<br />

essência da vida é equivocada: sua vontade de ‘potência’, com isso é ignorada a<br />

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