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Na verdade, as pessoas não gostam de nós; alguns cientistas dis-seram realmente<br />
demasiadas tolices, que não procediam da ciência, mas apenas das suas preferências<br />
filosóficas pessoais. Se de facto a ciência dá do mundo uma imagem insuportável, se<br />
priva a vida do seu sentido (e é claramente essa a conclusão do livro de Monod, sem<br />
esquecer o eco que dele fazem Dawkins e Dennett), suprimamos a ciência! É muito fácil,<br />
basta reduzir os financiamentos aos laboratórios.<br />
Será isso impossível e inoperante? Realmente? Suponhamos que o governo,<br />
acossado por preocupações financeiras, decide reduzir o orça-mento da investigação<br />
(que é o que está já a fazer). Pensa o leitor que a população se preocuparia com isso?<br />
Acha que uma manifestação de investigadores que exigissem financiamento provocaria<br />
grande emoção? Mas então, para sossegar as pessoas, deveremos regressar ao bom<br />
velho criacionismo?<br />
Naturalmente que isso seria completamente absurdo, tanto mais que o<br />
criacionismo não explica coisa alguma, o mesmo acontecendo com o darwinismo, como<br />
veremos adiante. Pretender que o Deus criador auxiliou pessoalmente o Ichtyostega a<br />
sair do oceano no devoniano não nos ajuda a compreender o que se passou; ora, é isso<br />
que a ciência deseja antes de mais: compreender o mecanismo interno e fisiológico que<br />
susci-tou esse fenômeno.<br />
Na realidade, os criacionistas actuais procedem com base numa teo-logia<br />
absolutamente ingênua, à qual a religião há muito renunciou. Na teologia moderna, a<br />
matéria depende do Deus criador, mas Deus não depende da matéria. O próprio acto<br />
criador está rodeado de um mistério profundo e, se Deus viesse explicar-no-lo, seria<br />
trabalho perdido, porque não o compreenderíamos! Deus esteve na origem dos<br />
mecanismos subli-mes que nós procuramos desvendar; e o pouco que deles<br />
compreendemos faz-nos mergulhar na admiração... Mas a sua origem continua rodeada<br />
de bruma, e eu quase diria, parafraseando Pascal, que «o mistério eterno destes<br />
mecanismos infinitos assusta-me».<br />
O que é preciso fazer é estudar, procurar compreender. E abandonar o orgulho.<br />
Ainda sabemos muito poucas coisas; não sabemos o suficiente para vaticinarmos e<br />
pretendermos, como os darwinistas, que já compreen-demos tudo, ou que possuímos a<br />
teoria definitiva, que é a mesma coisa.” 262<br />
É isso!<br />
Os beatos de Darwin...<br />
Eu simplesmente me divirto com os êxtases<br />
darwinisíacos da galerinha de Darwin. Isso na Internet é um<br />
verdadeiro espetáculo. Especificamente em relação à pessoa<br />
de Charles Darwin, a bajulação é de tal monta que fica difícil<br />
não associar tal comportamento com aqueles vivenciados por<br />
um beato diante de seu santo. Darwin, muito mais do que um<br />
cientista (no sentido estrito da palavra), tornou-se para<br />
muitas pessoas numa espécie de "libertador" ou num<br />
"Napoleão da ciência", o qual revelou ao mundo o verdadeiro<br />
caminho, a verdade e a vida.<br />
O texto a seguir, por exemplo, sintetiza um pouco todo<br />
esse alvoroço em torno do naturalista inglês. Divirtam-se!<br />
Por que todo ser humano deveria ser fã de Charles Darwin? 263<br />
1-Porque Darwin foi o cara que teve as duas ideias mais importantes, revolucionárias e<br />
abrangentes da humanidade: Seleção Natural e Seleção Sexual.<br />
251