16.04.2013 Views

Download - eBooksBrasil

Download - eBooksBrasil

Download - eBooksBrasil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Charles Darwin , em “A Origem do Homem”:<br />

"O homem analisa escrupulosamente o caráter e a ascen-dência dos seus cavalos,<br />

do seu gado e dos seus cães antes de acasalá-los; mas, quando chega a época das<br />

núpcias, ra-ramente ou nunca toma semelhante cuidado. Ele é levado por motivos quase<br />

análogos àqueles dos animais inferiores, quando são entregues à sua livre escolha,<br />

embora seja tão superior a eles que pode avaliar altamente as qualidades mentais e as<br />

virtudes. Por outro lado, sente forte atração pela simples riqueza ou pela posição.<br />

Todavia, mercê da se-leção, ele poderia de algum modo agir não só sobre a estru-tura<br />

física e a conformação óssea da sua prole, mas sobre as suas qualidades intelectuais e<br />

morais. Ambos os sexos de-veriam abster-se do matrimônio se acentuadamente fracos no<br />

corpo e na mente; mas estas esperanças são utópicas e nunca serão concretizadas nem<br />

mesmo parcialmente, enquanto as leis da hereditariedade não forem conhecidas<br />

amplamente. Todo aquele que prestar alguma ajuda para se colimar este fim estará<br />

fazendo obra boa. Quando os princípios da pro-criação e da hereditariedade forem<br />

melhor conhecidos, não ouviremos mais alguns membros ignorantes da nossa<br />

legisla-tura rejeitar com desprezo um plano que tente a verificar se o matrimônio entre<br />

consanguíneos é ou não prejudicial ao homem.<br />

O progresso do bem-estar do gênero humano é um pro-blema mais complexo:<br />

todos aqueles que não podem evitar a pobreza para os próprios filhos deveriam evitar o<br />

matrimônio; na verdade, a pobreza não só representa um grande mal, mas tende ao<br />

próprio incremento, levando à desconsideração do matrimônio. Por outro lado, Galton<br />

observou que, se o prudente evita o matrimônio enquanto que o incauto se casa, os<br />

membros inferiores tendem a suplantar os membros me-lhores da sociedade. Como<br />

qualquer outro animal, o homem sem dúvida chegou à sua atual condição elevada<br />

através de uma luta pela existência, devida ao seu rápido progresso; se deve progredir<br />

ainda mais, teme-se que deva estar sujeito a uma dura batalha. Se assim não fosse,<br />

chafurdaria na indo-lência e os mais dotados não teriam mais êxito na luta pela vida do<br />

que os menos dotados. Por isso a nossa natural taxa de aumento, embora leve a muitos<br />

prejuízos óbvios, não deve ser de algum modo muito reduzida. Deveria estar aberta a<br />

competição para todos os homens; e com as leis e os costu-mes não se deveria impedir<br />

que os mais capazes tivessem melhor êxito e que criassem o maior número de filhos. Por<br />

mais importante que a luta pela existência tenha sido e ainda continue sendo, contudo no<br />

que diz respeito ao desenvolvi-mento das qualidades mais elevadas da natureza humana<br />

exis-tem outros fatores mais importantes. Com efeito, as quali-dades morais<br />

progrediram, tanto direta como indiretamente, muito mais por efeito do hábito, das<br />

faculdades raciocinantes, da instrução, da religião, etc., do que pela seleção natural;<br />

muito embora a esta última se possam com segurança atribuir os instintos sociais, que<br />

constituíram a base para o desenvol-vimento do senso moral.<br />

A conclusão principal a que se chegou nesta obra, isto é, a de que o homem<br />

descendeu de alguma forma menos orga-nizada, nem sequer gosto de pensar,<br />

desagradará bastante a muitos. Mas dificilmente podemos duvidar que não tenhamos<br />

descendido de bárbaros. Jamais esquecerei o espanto que tive quando pela primeira vez<br />

vi uma reunião de fueguinos numa praia selvagem e impérvia, diante da ideia que logo<br />

me veio à mente — assim eram os nossos antepassados. Esses homens estavam<br />

completamente pelados e tinham o corpo pintado, com os longos cabelos emaranhados,<br />

as bocas espu-mavam de excitação e tinham uma expressão selvagem, apa-vorada e<br />

cheia de suspeita. Malmente tinham alguma arte e viviam como animais selvagens<br />

daquilo que conseguiam capturar e eram impiedosos com o que não fosse da sua tribo.<br />

Quem tiver visto um selvagem em sua terra nativa não sentirá muita vergonha se for<br />

constrangido a reconhecer que em suas veias corre o sangue das mais humildes<br />

criaturas. Quanto a mim, quisera antes ter descendido daquela pequena e heróica<br />

31

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!