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Darwin, a Bíblia e o ateu<br />

Vez ou outra nos deparamos inevitavelmente com a velha e<br />

famigerada “ironia do destino.” É que a realidade está sempre<br />

aquém do nosso próprio mundo, e nem sempre se mostra favorável<br />

ao nosso ego. É quando descobrimos que “Narciso acha feio o que<br />

não é espelho.”<br />

Não vejo lógica em se ligar o darwinismo diretamente ao<br />

ateísmo ou entendê-lo como uma doutrina anticristã, que contraria<br />

os princípios fundamentais das religiões monoteístas. Sim, não<br />

tenho a menor dúvida de que ele ofereça munição ideológica ao<br />

naturalismo filosófico, todavia não se pode afirmar categoricamente que seja incompatível<br />

com qualquer que seja a teologia. O chamado Evolucionismo Teísta tipifica muito bem este<br />

vínculo amigável entre a teologia e a Teoria da Evolução. É fato, porém, que determinada<br />

vertente darwinista transformou o darwinismo na mais potente arma contra a religião. Só<br />

depois de Darwin, disse o ideólogo Dawkins, foi possível ser um ateu intelectualmente<br />

satisfeito.<br />

Sabe-se que o velho Darwin não foi biólogo, não trabalhou em laboratório nem<br />

lecionou em universidades. Antes, porém, estudou teologia, com a qual pretendia tornar-se<br />

um pastor anglicano. Em uma de suas crises existenciais (dizem que após a morte<br />

prematura de um de seus filhos), no entanto, tornou-se agnóstico, embora jamais tenha<br />

negado a existência de Deus. Obviamente Darwin não podia acreditar no tipo de divindade<br />

descrita no Antigo Testamento bíblico, uma vez que muitas de narrativas atribuídas a ela<br />

chocavam-se frontalmente com sua filosofia transformista. Também é verdade que<br />

abominava a idéia de um inferno onde seriam lançados ímpios e profanos. Em sua<br />

Autobiografia, por exemplo, especificamente nos trechos omitidos por sua esposa, Darwin<br />

deixa claro porque sente ojeriza pela doutrina cristã: “De fato, torna-se difícil compreender<br />

que alguém queira que o cristianismo seja verdade... a Bíblia parece mostrar que as<br />

pessoas que não crêem – e entre elas se incluem meu pai, meu irmão e quase todos meus<br />

melhores amigos – receberiam uma punição eterna.”<br />

A religiosidade sempre foi uma questão que trouxe grandes tormentos na vida do<br />

velho Darwin. Ao mesmo tempo em que tentava negar a sua própria tradição religiosa,<br />

sentia-se bombardeado pelos valores judaico-cristãos que compunha a cultura inglesa<br />

naquele momento. Em seu livro “científico”, “A Expressão das Emoções no Homem e nos<br />

Animais” 352 (que tenho em mãos) ele dá uma pequena mostra de como a influência Bíblica<br />

lhe seguia tão bem de perto. Por exemplo:<br />

“Muitos autores, antigos e atuais, perceberam os movimen-tos até aqui citados. Já<br />

foi demonstrado que os aborígines, em diversas partes do mundo, frequentemente<br />

demonstram vergonha olhando para baixo ou para o lado, ou mexendo os olhos sem<br />

parar. Esdras (9,6) exclama: "Oh, meu Deus! Estou envergonhado, e coro ao levantar a<br />

cabeça para vós, meu Deus.” Em Isaías (1,6) encontramos as seguintes palavras: "Não<br />

escondo meu rosto por vergonha."<br />

[...]<br />

“As raças semíticas coram com facilidade, como seria de esperar, pela sua<br />

semelhança com os arianos. Assim, dos judeus está dito no Livro de Jeremias (6, 15):<br />

"Não, não estavam nem um pouco envergonhados, nem podiam corar."<br />

[...]<br />

"Há uma belíssima e muito conhecida descrição de um medo indefinido em Jó:<br />

"Em pensamentos provocados pêlos fantasmas da noite, quando o sono profundo<br />

envolvia os homens, fui tomado pelo medo e tremi até que todos os meus ossos<br />

ba-lançassem. Então, um espírito passou diante de meu rosto; os pêlos de minha pele<br />

levantaram-se. Ele ficou imóvel, mas eu não podia discernir sua forma: uma imagem<br />

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