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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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A obra musical não é simplesmente um todo composto <strong>de</strong> “estruturas” (eu<br />

prefiro, <strong>de</strong> qualquer forma, falar <strong>de</strong> “configurações”). Ao contrário, ela é também<br />

constituída pelos procedimentos que a engendraram (atos <strong>de</strong> composição), e os<br />

procedimentos que ela faz <strong>nas</strong>cer: atos <strong>de</strong> interpretação e percepção” (Nattiez,<br />

1990. p. IX. Tradução nossa).<br />

Para o autor, a obra musical, seja a partitura ou as ondas sonoras, não po<strong>de</strong> ser<br />

entendida sem o conhecimento <strong>de</strong> como ela foi composta ou como ela é percebida. A<br />

natureza <strong>de</strong> uma obra musical está, ao mesmo tempo, em sua gênese, na sua organização<br />

interna e na maneira como o intérprete a percebe. Para explicar plenamente o<br />

funcionamento semiológico <strong>de</strong> uma obra, é preciso ir além das estruturas imanentes e<br />

consi<strong>de</strong>rar as estratégias <strong>de</strong> criação que originaram tais estruturas (estratégias poiéticas) e<br />

as estratégias <strong>de</strong> percepção por elas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas (estratégias estésicas).<br />

A partir do momento em que as dimensões poiéticas e estésicas são integradas<br />

à análise, não é mais possível ignorar as remissões extrínsecas. Existe na música uma<br />

dimensão semântica importante tanto para o compositor quanto para o ouvinte, e estas<br />

remissões jamais serão necessariamente iguais para quem escreve, para quem interpreta ou<br />

para quem ouve.<br />

Para Jean-Jacques Nattiez (2002, p. 13-20), do ponto <strong>de</strong> vista semiológico, uma<br />

forma simbólica não é constituída por um só nível, mas por três: o nível poiético, o nível<br />

estésico e o nível neutro ou imanente.<br />

Na dimensão poiética, uma forma simbólica, mesmo que <strong>de</strong>stituída <strong>de</strong> qualquer<br />

significação intencional, resulta <strong>de</strong> um processo criador passível <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito ou<br />

reconstituído. Na maioria das vezes, o processo poiético se faz acompanhar <strong>de</strong><br />

significações que pertencem ao universo do emissor.<br />

Na dimensão estésica, os “receptores”, diante <strong>de</strong> uma forma simbólica, lhe<br />

atribuem uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> significações, geralmente múltiplas, para dar-lhe um sentido. A<br />

significação da mensagem é construída pelos receptores num processo ativo <strong>de</strong> percepção.<br />

No nível neutro, uma forma simbólica se manifesta física e materialmente sob<br />

o aspecto <strong>de</strong> um “vestígio” acessível à observação. Para Molino, trata-se realmente <strong>de</strong> um<br />

vestígio, porque o processo poiético não é imediatamente inteligível nesta forma. O termo<br />

“neutro”, por vezes controvertido, proposto por Molino, não implica em neutralida<strong>de</strong> do<br />

analista com relação a seu objeto. De acordo com Nattiez, é possível propor uma <strong>de</strong>scrição<br />

objetiva das configurações <strong>de</strong>sse nível neutro, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos interpretantes

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