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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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personagens dialogam com o Brasil <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z, também complexo, também<br />

conflituoso, também multifacetado. Personagem emblemático, o caboclo personifica uma<br />

memória que entrelaça o interior do País com suas alusões a um tempo <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong>, às<br />

mudanças sociais ocorridas, à <strong>de</strong>gradação do espaço rural e à falta <strong>de</strong> recursos, mas<br />

também reflete a busca da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, a beleza na <strong>de</strong>solação, o potencial luminoso. Nas<br />

associações do poeta com o caboclo, o canto e a noite assumem a função <strong>de</strong> suplência<br />

diante da terra abandonada e da ambiguida<strong>de</strong> das paisagens que se lhe apresentam. No jogo<br />

<strong>de</strong> <strong>imagens</strong> <strong>de</strong>ssa canção muitos encontros: o <strong>de</strong>ntro e o fora, a paisagem e o personagem,<br />

o passado e o presente, as ruí<strong>nas</strong> e a beleza.<br />

2.2 A imagem como tensão: Essa negra Fulô<br />

2.2.1 O poema<br />

186<br />

Essa negra Fulô, <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong> Lima 49 , é um dos poemas mais conhecidos da<br />

literatura brasileira, constando <strong>de</strong> inúmeras antologias e traduzido para vários idiomas. É<br />

um poema narrativo que conta uma história que envolve a escrava Fulô, sua ida para um<br />

engenho <strong>de</strong> açúcar e as situações em que se envolve. Escrito todo na popular redondilha<br />

maior, em linguagem coloquial, rimando sempre o nome Fulô, o poema assume, <strong>de</strong> início,<br />

um certo ar <strong>de</strong> “era uma vez”, próprio <strong>de</strong> um conto <strong>de</strong> fadas, que é contado por um<br />

narrador, “um” neto <strong>de</strong> um senhor <strong>de</strong> engenho.<br />

Ora se <strong>de</strong>u que chegou<br />

(isso já faz muito tempo)<br />

no banguê dum meu avô (...) 50<br />

Nessa narrativa, o contador da história vai introduzindo as falas dos<br />

personagens num discurso citado. Assim são as falas da Sinhá, as cantigas da escrava e as<br />

interjeições do Sinhô. De uma forma fragmentada, em quadros diferenciados, cada qual<br />

49 Jorge <strong>de</strong> Lima, natural <strong>de</strong> Alagoas, foi escritor engajado, preocupado com os problemas sociais brasileiros<br />

e usou <strong>de</strong> sua arte como arma <strong>de</strong> crítica das relações sociais brasileiras. Inicialmente poeta neo-par<strong>nas</strong>iano, na<br />

década <strong>de</strong> 20 a<strong>de</strong>riu às propostas mo<strong>de</strong>rnistas, adotando temas relacionados às paisagens nor<strong>de</strong>sti<strong>nas</strong>, os<br />

engenhos <strong>de</strong> açúcar, o reencontro com a infância, a miséria do povo, a consciência social. Natural <strong>de</strong><br />

Alagoas, conviveu na sua infância com meninos negros e escravos alforriados o que, provavelmente levou-o<br />

a abordar em seus poemas temas referentes às condições dos negros no país.<br />

50 LIMA, Jorge <strong>de</strong>. In: BANDEIRA, 1997, p.285.

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