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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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Se percebemos a canção como um todo, como um texto único, ela é, na<br />

verda<strong>de</strong>, um entrelaçamento <strong>de</strong> textos. Elementos musicais requerem um tipo <strong>de</strong><br />

percepção, bem como os elementos literários, e, quando pertinente, os elementos plásticos<br />

da performance. Assim como numa re<strong>de</strong>, como a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> computadores ou as re<strong>de</strong>s<br />

cerebrais, temos nós e conexões, na canção po<strong>de</strong>mos ou não conectar seus diversos<br />

elementos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> nossa percepção, criando um todo multidimensional.<br />

Várias são as formas <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong> uma canção. Valemo-nos aqui dos<br />

modos <strong>de</strong> aparição dos signos formulados por Peirce, materiais ou mentais, sejam eles<br />

sons, <strong>imagens</strong> ou palavras (Cf. Santaella, 2001, p. 60). No seu primeiro contato com a<br />

canção em performance, o ouvinte po<strong>de</strong> formar <strong>de</strong>sta obra uma primeira imagem,<br />

indivisível, não analisável. Esta percepção primeira é como um flash, como um insight. Se<br />

consi<strong>de</strong>rarmos essa imagem inicial como um signo, este seria, segundo Peirce, o primeiro<br />

nível <strong>de</strong> aparição <strong>de</strong>ste signo, <strong>de</strong>nominado por ele “ícone puro”. Po<strong>de</strong> também sobrevir<br />

uma “qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimento”, algo tênue, um simples gostar ou não gostar, um leve<br />

“achei triste”, por exemplo. Em outro nível, num processo ativo <strong>de</strong> percepção dos signos, o<br />

ouvinte se atém aos diferentes elementos que compõem a canção, como, por exemplo, sua<br />

melodia, seu ritmo, a harmonia, os significados das palavras, o timbre da voz do cantor, o<br />

toque da mão no piano, e começa a produzir possíveis associações.<br />

O intérprete é responsável por dar vida à partitura musical, recriando, a partir<br />

<strong>de</strong> seu universo simbólico, os elementos nela apresentados. Cada intérprete possui a sua<br />

maneira <strong>de</strong> abordar uma partitura <strong>de</strong> uma canção. Aproxima-se do poema-letra-<strong>de</strong>-canção,<br />

observa as estruturas musicais, estabelece relações entre os elementos do texto poético e do<br />

texto musical, busca compreen<strong>de</strong>r as maneiras como o compositor recriou o “texto<br />

original” – que po<strong>de</strong>rá sempre lhe servir <strong>de</strong> referência – e realiza, ele próprio, a sua<br />

recriação.<br />

A interpretação <strong>de</strong> uma canção é também instância <strong>de</strong> produção. O intérprete<br />

realiza a tradução da tradução que o compositor, por sua vez, já realizou. O intérprete po<strong>de</strong><br />

traduzir em sons a notação da partitura. Ele po<strong>de</strong> também comentá-la, explicá-la, analisá-<br />

la, situá-la em um contexto, enfim, realizar um discurso sobre a canção. E ainda transpô-la,<br />

poetizar por escrito sobre a canção, num esforço <strong>de</strong> tradução <strong>de</strong> suas <strong>imagens</strong> para a escrita<br />

verbal.<br />

O exposto anteriormente nos leva a problematizar a interpretação. Não se po<strong>de</strong><br />

negar que o texto poético possui sua coerência, assim como o texto musical, e que ambos<br />

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