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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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solidão” e <strong>de</strong> “infinita sauda<strong>de</strong>”, como no Noturno, <strong>de</strong> “mágoas sem fim”, como em<br />

Trovas <strong>de</strong> amor.<br />

226<br />

Por outro lado, as <strong>canções</strong> <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z po<strong>de</strong>m revelar uma doçura<br />

intimista, um lirismo quase sem arestas em Toada p’ra você, na lânguida seresta Meu<br />

pensamento, com versos <strong>de</strong> Renato <strong>de</strong> Almeida ou na <strong>de</strong>licada modinha As tuas mãos, com<br />

versos <strong>de</strong> Ronald <strong>de</strong> Carvalho. Delica<strong>de</strong>za e sensualida<strong>de</strong> contrastam com momentos<br />

violentos, torturados, dramáticos, tensos.<br />

Nos anos <strong>de</strong> 1936 a 1938, o compositor voltou-se para seus próprios poemas,<br />

para si mesmo, ainda que <strong>de</strong> forma indireta, por meio das personificações, tomando a água<br />

e a fonte como símbolos <strong>de</strong> sua própria voz. São <strong>de</strong>ssa fase as <strong>canções</strong> Samaritana da<br />

floresta, A canção da fonte e Coração inquieto. Esta mesma voz silencia e, após um<br />

período <strong>de</strong> quatro anos sem compor, o compositor retoma a escrita <strong>de</strong> <strong>canções</strong> com<br />

Madrigal, <strong>de</strong> 1943. Suas <strong>canções</strong> tornam-se mais e mais intimistas, obscuras,<br />

fragmentadas. O compositor retoma a poesia penumbrista <strong>de</strong> Ronald <strong>de</strong> Carvalho com<br />

Elegia da manhã e Vesperal e vai cada vez mais mergulhando no mundo dos sonhos, na<br />

noite, <strong>nas</strong> reminiscências com Dentro da noite, Trovas <strong>de</strong> amor e Aveludados sonhos,<br />

escritas nos anos <strong>de</strong> 1946 e 1947.<br />

Em suas <strong>canções</strong>, o impressionismo <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z liga-se às obras <strong>de</strong><br />

poetas mo<strong>de</strong>rnistas que nunca <strong>de</strong> todo abandonaram o seu veio neossimbolista como<br />

Manuel Ban<strong>de</strong>ira, Cecília Meireles, Tasso da Silveira, Ronald <strong>de</strong> Carvalho, Gaspar Coelho<br />

ou Ribeiro Couto. Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z musicou mais <strong>de</strong> 40 poemas. O compositor<br />

praticamente não repetiu poetas, talvez porque estivesse atrás <strong>de</strong> uma temática que <strong>de</strong> uma<br />

certa forma se encontra presente em todos os poemas que musicou: a temática da<br />

transformação, da transitorieda<strong>de</strong> da vida, da ambiguida<strong>de</strong> dos sentimentos. Temas<br />

intimamente ligados a uma época e um ambiente brasileiros também em transformação,<br />

também instáveis, também ambíguos. As <strong>canções</strong> <strong>de</strong> Lorenzo dialogam com o Brasil ao<br />

respon<strong>de</strong>rem ao momento histórico e ao proporem suas <strong>de</strong>núncias.<br />

O compositor, porém, apresenta um “eu” emocionado, que se expressa <strong>de</strong><br />

forma contun<strong>de</strong>nte. Em suas <strong>canções</strong>, o canto é fonte, é alimento, re<strong>de</strong>nção e consolo.<br />

Canto que se confun<strong>de</strong> com o pranto <strong>de</strong> tal forma que não se po<strong>de</strong> mais distingui-los.<br />

Consolo, entretanto, não todo para sentimentos expressados <strong>de</strong> forma pungente, muitas<br />

vezes dramática, onírica, em linhas melódicas <strong>de</strong>finidas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s saltos intervalares, nos<br />

lampejos <strong>de</strong> cores intensas, no movimento rítmico vigoroso conferido à voz e ao piano.

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