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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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interpretação da obra, a abordagem <strong>de</strong> Nattiez permanece analítica, operando com sistemas<br />

fechados, verificáveis ou inverificáveis, negando aquilo que o pensamento pós-mo<strong>de</strong>rno<br />

oferece <strong>de</strong> melhor – o trabalho com conjuntos abertos cujos elementos não são dados a<br />

priori. Trabalhar com a poesia implica também em lidar com a impossibilida<strong>de</strong>, com a<br />

adivinhação, com o “passo <strong>de</strong> sentido”. Nattiez acrescenta mais dados à análise. Em nossa<br />

opinião, chega o momento em que a interpretação se torna trabalho <strong>de</strong> criação. A<br />

apreciação estésica é, em síntese, trabalho <strong>de</strong> criação.<br />

114<br />

Um dos gran<strong>de</strong>s méritos da semiologia tripartite, no entanto, é acrescentar<br />

metodologia clara no trabalho interpretativo. É rigor metodológico. Mas, como nos diz<br />

Compagnon (2006) em O <strong>de</strong>mônio da teoria, ficar no meio não causa furor. As teorias se<br />

suce<strong>de</strong>m com a amplitu<strong>de</strong> máxima dos pêndulos, negando-se umas às outras. Para nós, a<br />

interpretação coloca-se como mais do que apreciação estésica dos mo<strong>de</strong>los estruturais. É<br />

trabalho <strong>de</strong> criação. Esse legado as teorias tradutórias, mais do que quaisquer outras, têm a<br />

nos oferecer. A interpretação é “transcriação”, como diria Haroldo <strong>de</strong> Campos.<br />

A teoria tripartite, no entanto, retira do intérprete o peso <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia perversa,<br />

a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que este é um eterno endividado, e restitui a maravilha, a beleza, a leveza da<br />

possibilida<strong>de</strong>. A<strong>de</strong>ntrar o universo semântico da canção a partir <strong>de</strong> sua materialida<strong>de</strong> é um<br />

primeiro passo. E se o intérprete jamais dará conta <strong>de</strong> uma suposta “essência da obra”,<br />

“oculta”, “escondida”, “impenetrável”, é porque o intérprete jamais dará conta <strong>de</strong> si<br />

mesmo, do mistério que habita em si.<br />

Para compreen<strong>de</strong>r o “modo <strong>de</strong> formar” <strong>de</strong> um poema, Haroldo <strong>de</strong> Campos nos<br />

conclama a “<strong>de</strong>socultar a forma semiótica”. Benjamin propõe uma busca <strong>nas</strong> “entrelinhas”.<br />

Esses autores estabelecem como critério um mergulho <strong>nas</strong> obras quando propõem ao<br />

tradutor “penetrar no âmago do texto, nos seus mecanismos e engrenagens mais íntimos”,<br />

em sua imanência, em seu “modo <strong>de</strong> formar”. Nos dizeres <strong>de</strong> Umberto Eco, “enten<strong>de</strong>r<br />

como a linguagem funciona não diminui o prazer <strong>de</strong> falar, nem <strong>de</strong> ouvir o murmúrio eterno<br />

dos textos” (1997, p. 174). A tradução, em síntese, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do texto, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do material<br />

que o texto lhe conce<strong>de</strong>, ou seja, <strong>de</strong> sua imanência. Nesse sentido, o tradutor aproxima-se<br />

do intérprete musical que verbaliza sua interpretação tendo por base a dimensão imanente<br />

da obra, como prega a teoria tripartite. Por sua vez, a dimensão imanente, como um<br />

“vestígio”, não propõe um texto como forma cristalizada e imutável. Ainda esta é sujeita<br />

ao olhar do intérprete, às suas escolhas <strong>de</strong> elementos no momento da análise, à sua própria<br />

maneira <strong>de</strong> apreciação.

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