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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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classe social, etnia, religião e língua. Nesse cenário, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma música mestiça vem ao<br />

encontro dos i<strong>de</strong>ais nacionalistas, particularmente <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, que precavia os<br />

compositores contra o exotismo na música, ou seja, contra a utilização <strong>de</strong> elementos<br />

puramente étnicos, e incentivava o reforço dos traços “brasileiros”.<br />

O resultado foi uma literatura musical que, em suas variadas formas <strong>de</strong><br />

manifestação, se estabelecia dialogicamente em relação aos repertórios das tradições<br />

europeias, africa<strong>nas</strong> e indíge<strong>nas</strong>, no movimento intertextual da sua linguagem, linguagem<br />

esta que, em última instância, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>smentir o conteúdo homogeneizador <strong>de</strong>sse programa,<br />

particularmente <strong>nas</strong> <strong>canções</strong> <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z, como veremos no Capítulo 3,<br />

<strong>de</strong>dicado às suas <strong>canções</strong>.<br />

O mo<strong>de</strong>rnismo <strong>nas</strong> artes e, em particular, o mo<strong>de</strong>rnismo brasileiro, foi um<br />

período <strong>de</strong> contradições que tanto po<strong>de</strong>m estar refletidas <strong>nas</strong> linguagens artísticas, quanto<br />

serem resultados dos rumos que tomaram as artes do período. No Brasil, a atitu<strong>de</strong><br />

paternalista com relação à população rural contrasta com a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> afastamento das<br />

manifestações populares urba<strong>nas</strong>; a mo<strong>de</strong>rnização <strong>nas</strong> artes convive com o retorno às<br />

formas arcaicas do folclore e com a retomada das tradições clássicas musicais. Por sua vez,<br />

as camadas mais altas da socieda<strong>de</strong>, a saber, a elite intelectual, segmentos da burguesia e<br />

representantes da indústria, se aproximam das classes populares por meio das<br />

manifestações artísticas. Conflito, discrepância e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, resultados da convivência<br />

pouco amistosa entre segmentos díspares da socieda<strong>de</strong>, contrastam com a união em torno<br />

<strong>de</strong> objetivos comuns, verificada não ape<strong>nas</strong> nos meios da arte culta, como também nos<br />

<strong>de</strong>mocráticos ambientes do teatro <strong>de</strong> revistas e, posteriormente, das rádios, nos quais as<br />

finalida<strong>de</strong>s artísticas, aliadas aos objetivos capitalistas visando ao lucro, seriam mais fortes<br />

que os preconceitos. União, or<strong>de</strong>nação e síntese também não po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> existir nos<br />

momentos em que os intertextos musicais, formados a partir das encruzilhadas diversas, se<br />

constituem como amalgamento <strong>de</strong> tradições arruinadas, perdidas, modificadas,<br />

transformadas.<br />

Os textos mo<strong>de</strong>rnistas <strong>de</strong>svendam uma polifonia <strong>de</strong> vozes que se revelam num<br />

país <strong>de</strong>sconhecido e misterioso. Mundos ignotos reinventados, forças autóctones<br />

pungentes. Povo, natureza, imensidão <strong>de</strong> espaços retratados. Imagens brasileiras <strong>de</strong> uma<br />

época, <strong>de</strong> um momento, <strong>de</strong> um sujeito. Imersas em sons, cores, luzes. Retratos noturnos.<br />

Serestas e batuques.<br />

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