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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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atabaques fala pelos personagens em Essa negra Fulô; a tapera e o ambiente rural refletem<br />

uma face do panorama brasileiro e dão voz ao caboclo; Rosa po<strong>de</strong>ria ser a personificação<br />

do Brasil.<br />

224<br />

Mas gritos <strong>de</strong>spregam-se da garganta, dilacerados como o da senhora da<br />

fazenda, doloridos como o do “eu” em A sauda<strong>de</strong>, pungentes como na evocação <strong>de</strong><br />

Iemanjá na Berceuse da onda e na Canção do mar e, ainda que um pouco mais tênues, no<br />

querer do poeta em Toada p’ra você ou na lembrança <strong>de</strong> um longo beijo doloroso em<br />

Vesperal. O mundo impressionista <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z não se contenta em refletir na<br />

paisagem a sua dor, mas a revela, a expõe abertamente aos sentidos <strong>de</strong> forma dramática. O<br />

nacionalismo <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z se impõe como um momento dramático que mescla<br />

impressões e expressões. Suas <strong>canções</strong> assumem um estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> um contexto, <strong>de</strong> situações e sentimentos, percebidos tanto nos temas como <strong>nas</strong> formas<br />

<strong>de</strong> expressão do seu estilo, e a sua tradução, por vezes concordante, por vezes contrária ao<br />

texto dos poemas musicados, assim ocorre por uma postura inconformada em traduzir<br />

ambientes brasileiros <strong>de</strong> forma simplesmente bela, estável ou sem conflitos.<br />

Existe um momento no nacionalismo brasileiro em que a atitu<strong>de</strong> algo alienada<br />

do flaneur, que a tudo assistia como panorama e cuja i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> se perdia no ambiente, já<br />

não cabe mais. O artista marca sua presença no ambiente, convive, busca misturar-se,<br />

fundir-se, busca colocar como suas as i<strong>de</strong>ias coletivas. Po<strong>de</strong>-se dizer que Lorenzo<br />

Fernan<strong>de</strong>z, com suas <strong>canções</strong>, traduziu em música a impressão que os ambientes<br />

brasileiros lhe causavam por meio <strong>de</strong> <strong>imagens</strong> visuais, sonoras, espaciais, cinéticas. Seu<br />

manifestar das impressões sobre ce<strong>nas</strong>, sobre paisagens, numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> afastamento<br />

própria do momento impressionista europeu convive, entretanto, em momentos do<br />

nacionalismo brasileiro, com a introdução do sujeito na paisagem. Um sujeito que se<br />

exprime <strong>de</strong> forma incisiva e dolorida.<br />

Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z e os poetas por ele musicados colocam-se como pintores,<br />

retratam paisagens mais ou menos difusas e <strong>de</strong>ixam com que o observador componha a sua<br />

paisagem interna. Numa atitu<strong>de</strong> impressionista, o artista i<strong>de</strong>ntifica o objeto retratado com o<br />

seu mundo interior e com o mundo à sua volta. A natureza e os objetos representados<br />

nessas obras personificam i<strong>de</strong>ias e sentimentos, convidando o observador a liberá-las. Em<br />

outras ocasiões, essas obras expressam conflitos interiores através <strong>de</strong> distorções e<br />

<strong>de</strong>formações que valorizam as paixões huma<strong>nas</strong>, <strong>de</strong>nunciam uma realida<strong>de</strong> e propõem um<br />

mergulho no inconsciente, além da realida<strong>de</strong> da dor. Nas <strong>canções</strong> <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z,

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