07.04.2013 Views

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

enquanto enumera tudo aquilo que o poeta recebe, vai, ao mesmo tempo, adiando, até o<br />

final do poema, o real <strong>de</strong>sejo do poeta. O objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, aquele que a palavra possuir<br />

carrega da conotação mais sensual, é, entretanto, incorpóreo. É um <strong>de</strong>sejo ape<strong>nas</strong><br />

imaginado: eu imaginei. O tempo no pretérito imperfeito queria, podia, retira as forças do<br />

querer e do po<strong>de</strong>r e se opõe ao tempo presente da moça que se dá. Ela sempre dá, sem que<br />

ele peça, sua risada, seu beijo, seu corpo moreninho. Rosa nem pe<strong>de</strong> nada em troca. É pura<br />

oferta <strong>de</strong> alegria e prazer. Desprendimento. Não divi<strong>de</strong> seu sofrimento, não cobra nada por<br />

ele. Ao contrário, é preciso estar atento para reparar, para perceber. Sua alma se oculta. E<br />

seu pensamento é livre, só <strong>de</strong>la.<br />

200<br />

Em torno do <strong>de</strong>sejo contraditório do “eu lírico” articulam-se as antíteses: o<br />

poeta se divi<strong>de</strong> entre a realida<strong>de</strong> concreta, corpórea, sensual e a realida<strong>de</strong> incorpórea <strong>de</strong> sua<br />

amante, representada pelo pensamento, a alma e o <strong>de</strong>sgosto. O mundo mo<strong>de</strong>rnista <strong>de</strong><br />

Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, seu lado arlequinal, solar, tão presente em sua Pauliceia <strong>de</strong>svairada,<br />

que se evi<strong>de</strong>ncia na alegria e no <strong>de</strong>sprendimento com que se apropria dos vocábulos<br />

populares, no seu coloquialismo no trato com a linguagem, no seu estar à vonta<strong>de</strong> num<br />

universo transbordante <strong>de</strong> sensualida<strong>de</strong>, se contrapõem ao seu lado Pierrô, seu lado lunar,<br />

num diálogo remoto com a tradição simbolista, que valoriza os aspectos interiores e pouco<br />

conhecidos da alma, que <strong>de</strong>seja o sofrimento que se oculta. Mas, o “eu” realmente <strong>de</strong>seja?<br />

Esse <strong>de</strong>sejo é fraco e <strong>de</strong>nuncia uma postura <strong>de</strong> observador. Dilui-se na vagareza dos<br />

versos. Torna-se prisioneiro em sua circularida<strong>de</strong>. O amante, como um “tupi tangendo o<br />

alaú<strong>de</strong>”, se divi<strong>de</strong> entre os mundos brasileiros, se dilacera em sua tentativa <strong>de</strong> integração. E<br />

segue circunvolteando, se esquecendo da vida. Daí advém a estranha melancolia que<br />

transpira nesses versos.<br />

2.3.2 A Toada p’ra você<br />

A “estrita amiza<strong>de</strong> e apreciável comunhão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias” entre Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z<br />

e Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, relatada por Vasco Mariz (2002, p.86) po<strong>de</strong> nos revelar um motivo<br />

pelo qual versos e música se entrelaçam <strong>de</strong> forma tão harmoniosa. Com sua sensibilida<strong>de</strong><br />

fina, Lorenzo capta os nuances do poema e a ele acrescenta outros ainda mais sutis. Sua<br />

forma circular e suas <strong>imagens</strong> lentas se materializam no andamento calmo da canção.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma dança lenta, uma <strong>de</strong>ssas danças que se po<strong>de</strong> dançar a dois, uma espécie <strong>de</strong><br />

samba-canção, com o ritmo pontuado e o primeiro tempo ligado ao segundo num

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!