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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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poético-musical que mais oculta do que revela e que permite múltiplos significados.<br />

Quantas <strong>imagens</strong> passam pela mente neste momento fugaz do fim da tar<strong>de</strong>? A canção não<br />

or<strong>de</strong>na essas <strong>imagens</strong> no tempo, ao contrário, ela as apresenta <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong>scontínua e<br />

fragmentada. A narrativa poético-musical salta <strong>de</strong> um momento para o outro, ao mesmo<br />

tempo em que os une. O tempo da narrativa se aproxima do tempo real, do tempo lacunar<br />

<strong>de</strong>scrito por Bachelard, ou da “<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m” do tempo <strong>nas</strong> vidas huma<strong>nas</strong> citado por<br />

Meyerhoff. No momento do entar<strong>de</strong>cer, as lembranças evocadas irrompem, sem que<br />

possamos precisar sua organização temporal. O momento presente se fun<strong>de</strong> a lembranças<br />

<strong>de</strong> tempos imemoriais, a fragmentos <strong>de</strong> memórias culturais e afetivas, cadências antigas,<br />

melodias rasuradas. Este “beijo que paira no ar” po<strong>de</strong> ser uma lembrança do passado ou<br />

uma antecipação do futuro, a memória <strong>de</strong> um acontecimento vivido, ou a memória <strong>de</strong> um<br />

sonho, um <strong>de</strong>sejo, uma fantasia.<br />

217<br />

Bachelard concebe o tempo como construção. Mas qualquer construção se dá<br />

através da representação, portanto, reviver o tempo do vivido é da or<strong>de</strong>m da representação.<br />

A memória apresenta-se como uma linguagem que procura representar o tempo vivido. O<br />

tempo construído pela memória não é mais o tempo real, o tempo do vivido e sim o tempo<br />

do revivido, da rememoração, do “pensado”. A memória procura <strong>de</strong>screver, criar a<br />

continuida<strong>de</strong> do tempo vivido, daquilo que já não mais existe, daquilo que é uma ausência,<br />

daquilo que é uma lacuna. Mas a continuida<strong>de</strong>, segundo Bachelard, é uma ilusão. A<br />

memória como linguagem constrói então uma nova instância, um novo momento que se<br />

faz presente no instante mesmo em que essa linguagem é criada. A continuida<strong>de</strong> do tempo<br />

em Vesperal é, portanto, uma ilusão. A narrativa poético-musical se apresenta cheia <strong>de</strong><br />

lacu<strong>nas</strong>, <strong>de</strong> incompletu<strong>de</strong>s. É a memória que, através <strong>de</strong> um esforço <strong>de</strong> construção, <strong>de</strong><br />

ligação, <strong>de</strong> análise, aproxima, or<strong>de</strong>na esses momentos temporais e os fun<strong>de</strong> num momento<br />

único. Num momento repleto <strong>de</strong> presente, passado e futuro. O tempo “pensado” em<br />

Vesperal é longo, infinitamente mais longo do que o curto instante do entar<strong>de</strong>cer. Vesperal<br />

é um instante eterno.<br />

3.4 Brasilida<strong>de</strong> e memória<br />

Eterna. Assim também po<strong>de</strong>mos pensar a brasilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa canção. A melodia<br />

sertaneja aparece como fragmento, memória distante que se busca completar, preencher,<br />

num esforço <strong>de</strong> ligação <strong>de</strong> <strong>imagens</strong>. Nada <strong>de</strong> ritmos sincopados, nada <strong>de</strong> melodias

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