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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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meio das <strong>imagens</strong> <strong>nas</strong> <strong>canções</strong> <strong>de</strong> Lorenzo, a marca da ambiguida<strong>de</strong>, mesmo <strong>nas</strong> sínteses<br />

mais harmoniosas, como em Toada p’ra você. Os diversos elementos musicais mesclados e<br />

rasurados em suas <strong>canções</strong> resultam, na maioria das vezes, em nossas <strong>canções</strong> estudadas,<br />

em tensão, em conflito e em contradição.<br />

242<br />

A heterogeneida<strong>de</strong> encontrada <strong>nas</strong> <strong>canções</strong> <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z po<strong>de</strong><br />

certamente se relacionar aos processos inerentes à sua escrita. Mas também relaciona-se<br />

com as transformações permanentes que a cultura oral e performativa sofre a cada vez que<br />

se reapresenta, aos seus rearranjos, à sua constante reorganização, não ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong>vido aos<br />

seus próprios processos históricos, mas em contato com um exterior pós-mo<strong>de</strong>rno e<br />

globalizado. Ao pensarmos sobre as categorizações “nossa música brasileira” ou “nossa<br />

canção <strong>de</strong> <strong>câmara</strong>”, <strong>de</strong>vemos levar em conta uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s regionais e<br />

vários mapeamentos globais <strong>de</strong>ntro dos quais o conceito <strong>de</strong> Nação Brasileira po<strong>de</strong> ser<br />

entendido hoje. 56<br />

Elementos da cultura oral contidos nessas <strong>canções</strong> po<strong>de</strong>m estar hoje<br />

modificados a ponto <strong>de</strong> não serem mais i<strong>de</strong>ntificados. Po<strong>de</strong>m também não ser<br />

reconhecidos por terem as tradições se perdido, se diluído ou <strong>de</strong>saparecido do universo <strong>de</strong><br />

seus ouvintes e intérpretes atuais. Numa outra hipótese, elementos <strong>de</strong>ssas obras po<strong>de</strong>m ser<br />

reconhecidos, mas <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados ou in<strong>de</strong>sejados, olhados como arcaicos, pertencentes a<br />

um passado “fora <strong>de</strong> moda”, alheios ao contexto mo<strong>de</strong>rno e globalizado em que nos<br />

inserimos. Portanto, muitas vezes, as <strong>canções</strong> <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z po<strong>de</strong>m ser vistas com<br />

uma certa estranheza por aqueles que as estudam e por seus intérpretes, assim como pelas<br />

plateias <strong>de</strong> ouvintes. Acreditamos que essas <strong>canções</strong> po<strong>de</strong>m ser olhadas com suspeita por<br />

encontrarem-se, <strong>de</strong> alguma forma, fora da realida<strong>de</strong> dos sujeitos que as interpelam. Acima<br />

<strong>de</strong> tudo, essas obras po<strong>de</strong>m ser vistas pelos intérpretes e ouvintes como pertencentes a<br />

diferentes sujeitos que não lhes dizem respeito ou com os quais o contato é in<strong>de</strong>sejado. As<br />

<strong>canções</strong> <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z, ao mesmo tempo em que po<strong>de</strong>m ser um ponto <strong>de</strong> diálogo<br />

privilegiado entre as culturas orais e escritas, entre a música erudita e a popular, po<strong>de</strong>m,<br />

também, constituir zo<strong>nas</strong> <strong>de</strong> conflitos: às vezes evitadas por a<strong>de</strong>ptos da música popular por<br />

56 Ao contraste entre as expectativas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e à realida<strong>de</strong> dos acontecimentos que surgem <strong>de</strong><br />

processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestabilização em escala mundial e dos esforços locais e globais <strong>de</strong> controlá-los <strong>de</strong>nomina-se<br />

“fissura narrativa”, expressão utilizada por Michael Geyer e Charles Bright. Diz-se da mo<strong>de</strong>rnização que não<br />

ocorre <strong>de</strong> maneira esperada. Globalida<strong>de</strong> negativa seria a não concretização <strong>de</strong> uma expectativa <strong>de</strong><br />

globalização, ou seja, várias impossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fechamento narrativo e <strong>de</strong> autocompreensão cultural. Cf:<br />

MOREIRAS, Alberto. A exaustão da diferença: paradigmas do latino americanismo. Belo Horizonte: Ed.<br />

UFMG, 2001. p. 67.

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