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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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tempo doce e picante. Rosa bem po<strong>de</strong>ria ser a personificação do país vivenciado por<br />

Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z e Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Uma metáfora <strong>de</strong> um país retratado como novo,<br />

sensual, convidativo, pura alegria. Uma terra que tudo dá. Mas que encobre a dureza, a<br />

opressão, a miséria.<br />

205<br />

Rosa, como personagem, não se fecha numa <strong>de</strong>scrição. A maneira como a<br />

percebemos é indireta. Rosa é uma face aberta que vai se <strong>de</strong>lineando aos poucos, mas<br />

nunca sabemos bem como ela é. O retrato <strong>de</strong> Rosa, ou o retrato <strong>de</strong> um Brasil pensado por<br />

esses autores, é tecido com <strong>imagens</strong> lentas da dança, cheias <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngo, <strong>de</strong> molejo, <strong>de</strong> cor, <strong>de</strong><br />

sensações táteis, <strong>de</strong> posturas corporais. A canção é um rico universo <strong>de</strong> musicalida<strong>de</strong><br />

(melopeia), <strong>imagens</strong> (fanopeia), e <strong>de</strong> contingente i<strong>de</strong>ológico (logopeia), assim como queria<br />

Pound. A fartura e miséria do país são metaforicamente figuradas nos atributos <strong>de</strong> Rosa.<br />

A dança é bem-estar, alegria. Ecoa na risada <strong>de</strong> Rosa, <strong>nas</strong> carícias, em seu jeito<br />

moreno. É uma compensação para uma realida<strong>de</strong> dura, sofrida, marcada na alma. É por<br />

meio da dança nessa canção que a realida<strong>de</strong> se revela e se escon<strong>de</strong>. No sofrimento há<br />

também a beleza, a boniteza, a faceirice. E assim se segue dançando.<br />

O <strong>de</strong>sejo do poeta é amplo, é um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong> numa terra plena <strong>de</strong><br />

possibilida<strong>de</strong>s, mas também <strong>de</strong> carências. Por trás <strong>de</strong> todo esse <strong>de</strong>ngo, o querer <strong>de</strong>bilitado<br />

do poeta: possuir dois mundos, abarcar a dor morena que não é a sua. Um querer que não<br />

se sabe para que lado vai, pois que a dança, diferentemente do caminhar, não costuma levar<br />

a nenhum lugar, não tem uma direcionalida<strong>de</strong>, existe ape<strong>nas</strong> enquanto se <strong>de</strong>senvolve. A<br />

canção <strong>de</strong>senha um percurso errante do <strong>de</strong>sejo do poeta, não se sabe bem on<strong>de</strong> começa ou<br />

termina, circula, se per<strong>de</strong> no tempo.<br />

No contexto multifacetado e contraditório do mo<strong>de</strong>rnismo, poeta, compositor e<br />

nação estabelecem um mundo dialógico. Justapõem pontos <strong>de</strong> vistas, sentimentos, <strong>imagens</strong><br />

enfim, que no universo específico <strong>de</strong>sta Toada p’ra você parecem se somar, se ampliar,<br />

fortalecer. E constroem <strong>imagens</strong> brasileiras harmoniosas, lentas, sensuais, calmas,<br />

coloridas, com a marca sutil da ambiguida<strong>de</strong>.<br />

2.3.5 Impressões e expressões<br />

Rosa é retratada por dois artistas que interpretam seu mundo e são também eco<br />

da socieda<strong>de</strong>, no mundo dialógico por excelência que constitui o mo<strong>de</strong>rnismo. Rosa, assim,<br />

personificará i<strong>de</strong>ias e sentimentos <strong>de</strong> um poeta, <strong>de</strong> um compositor e <strong>de</strong> uma nação, uma

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