imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez
imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez
imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ó Fulô, ó Fulô!<br />
(Era a fala da Sinhá)<br />
vem me ajudar, ó Fulô,<br />
vem abanar o meu corpo<br />
que eu estou suada, Fulô!<br />
vem coçar minha coceira,<br />
vem me catar cafuné,<br />
vem balançar minha re<strong>de</strong>,<br />
vem me contar uma história,<br />
que eu estou com sono, Fulô!<br />
Fica aparente, por fim, a situação da negra que se reverte, fazendo o ofensor <strong>de</strong> ofendido,<br />
Cadê, cadê teu Sinhô<br />
que Nosso Senhor me mandou?<br />
Ah! Foi você que roubou,<br />
Foi você, negra Fulô?<br />
188<br />
Jorge <strong>de</strong> Lima, em suas preocupações com os problemas brasileiros, escreveu,<br />
senão uma poesia negra – termo normalmente atribuído à poesia escrita por poetas<br />
consi<strong>de</strong>rados ou que se assumem como negros – uma poesia sobre negros e suas relações<br />
na socieda<strong>de</strong>. Uma das maiores qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta poesia encontra-se em sua linguagem<br />
narrativa que permite ao autor abordar, <strong>de</strong> maneira perspicaz, as relações da negra com a<br />
senhora <strong>de</strong> uma forma indireta, progressiva e bastante verossímil, capaz <strong>de</strong> capturar o leitor<br />
ao final com o trunfo da negra. Ao valorizar a figura da negra, sua construção poética<br />
revela <strong>de</strong> uma maneira simpática a participação do negro na formação étnica do povo<br />
brasileiro – tema caro aos mo<strong>de</strong>rnistas. A poesia aborda relações <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong>, boa<br />
convivência e intimida<strong>de</strong> entre brancos e negros, a <strong>de</strong>speito dos conflitos raciais no Brasil.<br />
Lima enfraquece, por exemplo, a cruelda<strong>de</strong> das ce<strong>nas</strong> <strong>de</strong> açoite, ao valorizar a sensualida<strong>de</strong><br />
da negra e as reações <strong>de</strong> pasmo do patrão e valoriza a astúcia da escrava enquanto atenua<br />
as reações <strong>de</strong> dor, tanto <strong>de</strong>sta quanto as da senhora. Existe um certo tratamento i<strong>de</strong>alizado,<br />
mesmo lírico, da participação da mulher negra na socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixando adormecidas<br />
questões profundas como a sua exploração tanto moral como sexual.