07.04.2013 Views

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

linguagem <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z, que, por si, <strong>de</strong>smente o conteúdo homogeneizador do<br />

programa nacionalista, que pretendia aproximar, <strong>de</strong> forma homogênea e sem conflitos, os<br />

diferentes segmentos da população brasileira, quer seja <strong>nas</strong> i<strong>de</strong>ologias composicionais <strong>de</strong><br />

um Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> ou num programa estatal nacionalista como o do governo Vargas.<br />

2. Paisagens e personagens: ambiguida<strong>de</strong> e heterogeneida<strong>de</strong><br />

175<br />

Nas três <strong>canções</strong> que se seguem, procuraremos <strong>de</strong>monstrar, por meio <strong>de</strong><br />

<strong>imagens</strong> que sugerem paisagens e personagens, três maneiras distintas com as quais<br />

Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z traduziu os poemas em música e três resultantes: ambiguida<strong>de</strong>, tensão<br />

e síntese. Na canção Tapera, <strong>de</strong> 1929, veremos o interior agreste e <strong>de</strong>solado do Brasil na<br />

imagem <strong>de</strong> uma casa em ruí<strong>nas</strong> e os personagens humanos ou não: o vento, a noite, o<br />

caboclo. Em Essa negra Fulô, <strong>de</strong> 1934, o embate <strong>de</strong> forças entre a senhora da fazenda e<br />

sua escrava, numa paisagem escura e tensa construída pelo ruído dos atabaques. Em Toada<br />

p’ra você, <strong>de</strong> 1928, Rosa e o poeta circunvolteando no calmo ambiente à meia luz.<br />

2.1 A imagem como ambiguida<strong>de</strong>: Tapera<br />

Aquela casa <strong>de</strong> sapê<br />

com a tinta nova do luar<br />

tem qualquer cousa que parece recordar<br />

o tempo em que possuía o seu terreiro <strong>de</strong> café<br />

e o seu pomar.<br />

Agora, junto às janelas<br />

viçam flores <strong>de</strong> abóbora<br />

muito amarelas.<br />

E, em moutas ver<strong>de</strong>s cruas<br />

<strong>nas</strong>cem protuberantes gravatás,<br />

e trepam pela cerca as flores roxas<br />

<strong>de</strong> misteriosos maracujás...<br />

E quando a noite vem, com o seu vestido <strong>de</strong> noivado,<br />

<strong>de</strong>rramar pelo vão do teto esburacado<br />

um punhado <strong>de</strong> fitas brancas lá por <strong>de</strong>ntro,<br />

o vento canta pelas frinchas do telhado,<br />

o último choro do caboclo apaixonado... 45<br />

45 RICARDO, Cassiano. A flauta que me roubaram: Coletânea poética temática <strong>de</strong> Cassiano Ricardo. 2ª.<br />

Edição, Org. Júlio Ottoboni, São José dos Campos: Patrocínio cultural Petrobrás, 2001, p.139.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!