07.04.2013 Views

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

melódica se modifica na palavra mundo, alçando-se até um Mi agudo para <strong>de</strong>pois realizar<br />

um intervalo <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, o maior intervalo da canção, como uma representação icônica<br />

do <strong>de</strong>scer da sombra. O compasso ternário e a indicação forte enfatizam e prolongam a<br />

duração daquela palavra. Finalizando a frase uma cadência plagal com resolução branda<br />

(imperfeita, com a terça no baixo). Na repetição <strong>de</strong>sta seção, com mínimas variações<br />

harmônicas e melódicas, a voz silencia por um momento, <strong>de</strong>ixando que o piano tome para<br />

si a sua melodia, como uma memória.<br />

214<br />

A próxima frase musical para o verso A sombra é um lábio silencioso...<br />

articula-se na palavra silencioso com uma cadência dominante-tônica, criando uma<br />

imagem sonora <strong>de</strong> vazio e silêncio <strong>de</strong>vido à utilização ape<strong>nas</strong> das notas do baixo oitavado<br />

na mão esquerda. Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z repete a palavra silencioso. Apesar da cadência<br />

plagal conclusiva, a melodia da voz termina no quinto grau na escala, <strong>de</strong>ixando inconclusa<br />

a frase melódica.<br />

Percebemos que a canção é, na verda<strong>de</strong>, uma sucessão <strong>de</strong> frases musicais <strong>de</strong><br />

diferentes extensões, que acompanham com exatidão a prosódia dos versos do poema.<br />

Cada frase é pontuada por um tipo diferente <strong>de</strong> cadência <strong>de</strong> finalização. As cadências<br />

utilizadas são, na sua maioria, cadências suspensivas <strong>de</strong>ixadas inconclusas ou com<br />

resoluções brandas, como as cadências plagais. Harmônica e melodicamente essas frases<br />

ficam sempre em suspenso, não têm “chão”. É como se estivessem sempre pairando. É<br />

interessante observar, entretanto, que na maioria das vezes o acor<strong>de</strong> inicial <strong>de</strong> uma frase é<br />

ao mesmo tempo uma resolução da frase anterior. É como se <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia surgisse sempre<br />

uma nova, ligada à anterior. Desta forma, todas as frases são unidas harmonicamente num<br />

gran<strong>de</strong> contínuo, porém <strong>de</strong> uma forma “frouxa”, instável. Assim também, como<br />

apren<strong>de</strong>mos com Bachelard, num esforço <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um tempo contínuo, a memória<br />

parece ligar episódios <strong>de</strong>scontínuos.<br />

Respirações, fermatas, pausas e mudanças <strong>de</strong> compasso são responsáveis por<br />

tornar o tempo que separa uma frase da outra sempre diferente e impossível <strong>de</strong> ser medido<br />

com exatidão. Esses “silêncios” tanto separam quanto unem as frases, pois instauram uma<br />

expectativa. Além do andamento especificado “lento”, o compositor escreve várias<br />

indicações <strong>de</strong> agógica, na seguinte sequencia: ritenuto, a tempo, alargando, a tempo, poco<br />

ritenuto, a tempo, ritenuto, morrendo. O ritmo se arrefece, mas é sempre retomado no<br />

início <strong>de</strong> cada frase, como se o “eu poético” se lembrasse repentinamente <strong>de</strong> algo, mas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!