07.04.2013 Views

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

207<br />

Sabemos que uma canção é uma arte literário-musical que transcorre no tempo,<br />

que necessita, portanto, do fator tempo para se <strong>de</strong>senvolver, para ser apreciada. O tempo,<br />

entretanto, torna-se mais do que simplesmente um tempo <strong>de</strong> percurso. É mais do que<br />

duração. Nosso objetivo, nesta seção, é perceber como as <strong>imagens</strong> nessa canção nos<br />

conduzem por esse tempo. E, também, por meio <strong>de</strong> que <strong>imagens</strong> a brasilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

compositor que preten<strong>de</strong> sua obra como mais “universalista” transparece nessa canção.<br />

Para tecermos consi<strong>de</strong>rações sobre o tempo na canção, torna-se necessário abrirmos um<br />

parênteses teórico, no qual nos valemos das consi<strong>de</strong>rações sobre o tempo <strong>de</strong> Bachelard,<br />

dos ensaios <strong>de</strong> Meyerhoff sobre o tempo na literatura e das pesquisas <strong>de</strong> Damásio sobre a<br />

formação das <strong>imagens</strong> na mente.<br />

3.1 Tempo, imagem e memória<br />

Segundo Bachelard (1988, p. 39) o tempo do mundo e o tempo individual <strong>de</strong><br />

cada um se superpõem, às vezes em velocida<strong>de</strong>s diferentes. O tempo cronológico po<strong>de</strong><br />

passar rápido, mas a impressão da passagem do tempo para o indivíduo po<strong>de</strong> ser longa. O<br />

contrário também ocorre, quando aquilo que na realida<strong>de</strong> custou a passar é às vezes<br />

percebido como um instante breve, fugaz. Isto porque Bachelard coloca o indivíduo como<br />

o responsável por construir o seu tempo com suas próprias experiências, particularmente<br />

com a experiência da memória. A memória revive o que já <strong>de</strong>sapareceu, e o que já<br />

<strong>de</strong>sapareceu não é contínuo, é constituído <strong>de</strong> fragmentos. Desta forma, Bachelard concebe<br />

o tempo vivido como um tecido cheio <strong>de</strong> lacu<strong>nas</strong>, <strong>de</strong>scontínuo. A <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, o<br />

conflito, a lacuna é que constituem a realida<strong>de</strong> temporal da vida. Para evitar a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, o<br />

homem tenta estruturar o seu tempo <strong>de</strong> forma contínua. A continuida<strong>de</strong>, a sucessão, o fluxo<br />

são uma construção do ser humano, um ato <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>. Para Bachelard, a continuida<strong>de</strong> é<br />

que seria uma ilusão:<br />

A memória não nos entrega nem mesmo diretamente a or<strong>de</strong>m temporal; ela tem<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se basear em outros princípios <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação. Não <strong>de</strong>vemos<br />

confundir a lembrança <strong>de</strong> nosso passado e a lembrança <strong>de</strong> nossa duração. Por<br />

nosso passado, enten<strong>de</strong>mos no máximo, <strong>de</strong> acordo com o sentido precisado por<br />

Pierre Janet, o que tínhamos <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado no tempo ou aquilo que no tempo nos<br />

feriu. Não guardamos traço algum da dinâmica temporal, do escoar do tempo.<br />

Conhecer-nos é reencontrar-nos nessa poeira <strong>de</strong> acontecimentos pessoais. É num<br />

grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões experimentadas que repousa nossa pessoa (BACHELARD,<br />

1988, p. 39).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!